Volmar Camargo Junior
as verdades do mundo se escondem
no meio da trama dos fios do tapete
nas teias de uma aranha velha
que se acumulam nos batentes
da porta dessa casa estranha
pobre aranha que nunca roubou
a vida de uma só mariposa
alheias estas ao que o mundo esconde
alheia aquela ao pó que ignora
alheio aquele ainda aos pés que trazem do mundo
somente a verdade
pobres partículas de verdade
em si contém tudo o que há em tudo
- falta-lhes apenas um pingo de vontade
de serem mais do que migalhas
de um mundo infinitamente maior
alheio este às próprias migalhas que o constituem
alheamento, ignorância, verdades,
tapetes empoeirados, teias-de-aranha empoeiradas
e pó
são os bens, o legado desta casa velha
resta viver em meio ao pó
respirá-lo até que adira aos pulmões
e que termine por deixar quem o respira
velho e empoeirado como a habitação
ou removê-lo
deitar fora o tapete sujo
tirar todas as teias-de-aranha - e matar
cada uma delas
e a todas as mariposas
e com baldes e baldes d'água
dar à casa uma aparência clara, limpa e habitável
como só a mais asseada ignorância é capaz
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