(Maristela Scheuer Deves)
Escrever sobre o que se conhece é um conselho constantemente dado a quem sonha em se tornar um escritor. Coincidência ou não, não são poucos os livros que têm escritores como protagonistas. Dos mais variados gêneros, essas obras dão um gosto extra à leitura: a sensação de penetrar, um pouquinho que seja, no universo de quem cria universos.
Escrever sobre o que se conhece é um conselho constantemente dado a quem sonha em se tornar um escritor. Coincidência ou não, não são poucos os livros que têm escritores como protagonistas. Dos mais variados gêneros, essas obras dão um gosto extra à leitura: a sensação de penetrar, um pouquinho que seja, no universo de quem cria universos.
O costume de utilizar esse recurso, que serve também para humanizar a figura do escritor, fazendo com que se aproxime mais do leitor, não é de hoje. Um exemplo é o romance de terror Os Mortos Vivos, de Peter Straub, escrito no final dos anos 1970. Nele, um escritor, Donald Wanderly, não apenas narra a ação como é também um dos personagens centrais.
Ainda no terror, quem rotineiramente utiliza escritores como protagonistas é o mestre Stephen King. Um dos livros em que o personagem/autor aparece é na obra Angústia, também publicada com o nome de Misery. Nela, o fato de o protagonista ser escritor tem suma importância para os rumos da narrativa, já que o escritor fictício Paul Sheldon é mantido preso por uma fã que quer que ele escreva um livro ressuscitando um personagem. O recurso aparece também em outras obras de King, como no recente Love - embora o livro seja teoricamente a história de Lisey, a mulher de um escritor morto, a figura do criador de histórias ainda está presente e muito forte.
Do suspense/terror ao suspense psicológico, alguns bons exemplos do que falamos aqui são os livros End of Story (Fim da história, em tradução livre), de Peter Abrahams - no qual a escritora iniciante Ivy vai ensinar escrita criativa em um presídio e descobre lá dentro um talento maior do que o seu - e Quase o autor, de John Colapinto, que conta a história de um jovem aspirante a escritor que, ao descobrir o original inédito e muito bem construído de um amigo morto, resolve publicá-lo como se fosse seu. Esse mote do escritor que rouba o livro de outro também dá a tônica de Inveja, de Sandra Brown: nele, uma editora se envolve com um misterioso autor cujo livro fala sobre um escritor que roubou a obra de outro.
A lista de livros com personagens/escritores segue com os ótimos Vertigem, de Erica Spindler, O vendedor de histórias, do consagrado Jostein Gaarder, e Oscar Wilde e os Assassinatos à Luz de Velas, de Gyles Brandreth. Esse último tem ainda o atrativo a mais de transportar para a ficção dois escritores reais, os célebres Oscar Wilde, autor de O retrato de Dorian Gray, e Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes.
E se um escritor fictício é bom, o que dizer de dois, tendo de quebra ainda uma editora? É o caso do divertidíssimo Um bestseller para chamar de meu, de Marian Keyes, que traz a escritora famosa Lily, a escritora iniciante Gemma e a editora Jojo.
A lista de exemplos poderia seguir indefinidamente. No entanto, o que vale destacar é que o atrativo dos escritores-personagens está no fato de eles fazerem com que o leitor veja os escritores como alguém real, concreto, "gente como a gente" - além de mostrar um pouquinho como é a rotina de quem vive da escrita.
1 comentários:
Muito legal, Maristela, eu também consigo pensar em vários livros com protagonistas-escritores:
- O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse;
- quase todos do Henry Miller, de James Joyce e de Charles Bukowsky;
- O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa;
- David Copperfield, de Charles Dickens;
- A Divina Comédia, de Dante;
Bem, e há infinitas outras obras. O interessante é o que faz Italo Calvino em "Se numa noite de inverno um viajante..." que, ao invés de contar a história de escritores, conta a história de leitores. :D
Postar um comentário