Nas fotografias
do menino alegree do homem triste
procurei
em vão
o elo perdido
do eu.
SOB CONTROLE
Tenho pulsão
de mortereclusa,
sob controle.
É pra quando
as ervas daninhasinfestarem meu jardim,
com as raízes invasoras
a sufocar, sem piedade,
os pés-de-sonhos ressequidos
e os copos-de-versos murchos.
(Poema vencedor do Concurso Nacional de Poesia
“Adilson Reis dos Santos" – Ponta Grossa/PR, 2012.)
“Adilson Reis dos Santos" – Ponta Grossa/PR, 2012.)
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CAUDAL
Singro o rio multifário
das verdades ocultas,
das hordas dissimuladas
desses homens absurdos.
Sinto-me também absurdo,
nestas águas de clausura.
E tanto – sutil paradoxo –,
que me liquefaço, inerme,
pela correnteza atroz.
Para que nasça, de mim,
um ser que resuma tantos, como parte da carência,
como projeção em outros
tão iguais e tão diferentes
entre si, entre todos. Entre
fios de redes ancestrais,
que submetem ao destempo.
Este rio caudal, que anseia
um mar sereno (horizonte obliterado): deságue
de seus veios transversais,
repletos de anomalias
em corpos boiando no limbo,
com a alma dilacerada
pela negação e o desdém
de seres também anômalos.
Estranho que sou, de mim.
Eles (o espelho que evito)me cindem e me englobam.
Eles me são. Enquanto sangro,
nas vagas da incompletude.
Às vezes, em versos vãos;
noutras, em orgasmos tristes
(gestos vagos, pela ausência
de um olhar que os ilumine).
Esperança per se:
seres em si e nos outros. Mãos que assim delineiem
um mar ainda possível.
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Edelson Nagues
Poemas do livro Águas de Clausura (Scortecci Editora),
vencedor do X Prêmio Literário Livraria Asabeça.
(Imagem: "Limites do Visível", de Laura Corrêa.)
vencedor do X Prêmio Literário Livraria Asabeça.
(Imagem: "Limites do Visível", de Laura Corrêa.)
6 comentários:
E mergulhamos, com muita alegria, no Mar de Sua Poesia, amigo Edelson. Parabens.
Que imagens fortes, Edelson! Senti a opressão da clausura. E a ilustração escolhida foi muito boa também. Parabéns!
Grande, Edelson! Enclausurei-me aqui nos orgamos tristes... Belíssimos... Abração!
Obrigado, amigos. Seus comentários, generosos, são sempre um alento e uma lição.
Tati, assim como ocorreu com o livro "Humanos" (cuja imagem da capa é de uma fotógrafa portuguesa), assim que bati os olhos nessa imagem, pesquisando na internet, não tive dúvida de que era a ideal. Fico contente por vc confirmar isso.
Abraços.
Conseguiu postar, que bom!
Se eu falar mais alguma coisa, vai começar a parecer "puxasaquismo"!
Leio e arrepio. Forte demais.
Obrigado, Cínthia. A admiração é recíproca, então. Aprendo mto com seus textos de mestra.
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