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sábado, 13 de outubro de 2012

Imagem de Barro | Ultimo Quarto



Conto, por Wellington Souza

Parte IV - Ultimo quarto

"...são dois homens competindo para ver quem me dá mais prazer. Hedonistas, é o que somos."

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Levemente embriagada vejo a pedra de Sísifo descer a montanha. Caminho junto a ele para o resgate inútil, mas essa é a inutilidade da vida.

Embriagada o suficiente para ter coragem de fazer o que quero, correr a tudo que me ocorre e não mais fugir dos desejos. Sou o meu id, agora. Nesta rápida passagem pelo banheiro, visto a máscara da luxúria e dispo-me o corpo e, sem clichê algum, também a alma. Se “começar a pensar é começar a ser atormentado”, testarei se parar de pensar é parar de ser atormentado... Se entregar-se ao sexo é, por excelência, abdicar da vida como a conhecemos – é uma forma de suicídio – e termos consciência apenas da fração de momento. Talvez seja, até, a fronteira antes da desistência ultima e completa.

Coincidência um estar me esperando na portaria quando eu cheguei com outro. Em outras épocas, isso acabaria em duelos (aquela coisa toda, com direito a padrinhos assistindo...); tiroteio... sangue. Mas hoje, termina em bacanal.

‘Sim, que me fodam’ repito ainda agora. Foi o que eu disse dada a situação incômoda, na porta do condomínio, quando questionada de forma irônica se eu agüentaria com os dois. Que me fodam, repito comigo mesma em monólogo.

A teoria é ótima: além de dois homens empenhados em me dar prazer, ao invés de um; são dois homens competindo para ver quem me dará mais prazer. Hedonistas, é o que somos. Os budistas e epicuristas que me perdoem, mas a busca pelo prazer é a chave do sucesso humano enquanto espécie. É o sexo que liga nossas consciências não apenas com outro indivíduo, mas sim com o mundo tátil e social. “Corpos se entendem, almas não” disse Bandeira.

Sinto vontade de fumar, mas logo esse desejo fálico será saciado...

Tento andar de salto, mas me desequilíbrio e quase caio. Jogo para o lado, então, os saltos e caminho até o quarto na ponta dos pés, para manter silhueta perfeita.

Eles estão cada um de um lado da cama box. Lembro-me de cenas de cinema e tento reproduzir as mais sensuais. Subo ao pé da cama, somente de calcinha, e faço charme do strip and tease. Eles estão de cueca, mas exijo a nudez. Minha calcinha se junta às suas cuecas, jogadas.

A ordem correta para as preliminares, agora, é fazer oral em um enquanto recebo de outro, mas há a dúvida sobre qual escolher para começar. Então salto e me jogo em uma pequena poltrona que fica ao lado da cama, de pernas abertas (uma no braço do móvel). O homem que está mais próximo, o mais tímido, que conquistara de mim as terras mais próximas ao amor, ajoelha-se ante meu corpo segue beijando minhas coxas, virilha até chegar lá, onde submerge. No sentir seus lábio entre os meus e sua língua viscosa em movimentos de cego, apalpando a carne, inflamo-me e lhe retribuo perdendo de vista minha unhas negras em seus cabelos, massageando-o e regendo o ritmo do tributo.

Há gente que é feita para viver e há gente que é feita para amar. E esse é o melhor tipo de amor: único e sem esperanças. A esperança e a nostalgia são os vermes que daninham o coração. Em vão me recolho em Camus, Nietzsche, Freud para buscar explicações que me justifiquem e dêem, enfim, a paz. Mas mesmo assim as ervas daninhas ainda empesteiam o coração. Prazer não é felicidade. Somente subir a pedra refresca um pouco os ânimos. “Trabalhar sem filosofar é a única maneira de tornar a vida suportável” é a conclusão que Voltaire nos dá, em 'Cândido ou O otimismo'. Dom Juan trocaria o ‘trabalhar’ por ‘transar’.

O outro postou-se ao meu lado, ereto. Fiz um movimento para, com a boca, invaginar o seu pênis. A essa ação ele recuou um pouco o quadril, de modo que meus lábios apenas tocassem de leve a sua glande, apenas a beijasse com carinho fraterno. E continuou raspando-o em minha face, no blush das bochechas e no piercing do nariz. Até que resolveu introduzir: momento esse que eu aguardava de olhos fechados e boa entre aberta.

Tento imaginar o que cada um quer para satisfazer antes sequer de terem consciência das necessidades.Iniciamos o ciclo mágico, a busca, de dar e receber prazer. E a certeza de que nunca mais nos veremos é o que dá o palco para sermos as personagens que sempre , de alguma forma, sonhamos.

*
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Créditos da imagem:
Art on Self Portrait, por Juliana Blasina

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