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segunda-feira, 3 de maio de 2010

A porta

Ela bateu a porta tão forte quanto jamais imaginara que pudesse fazer. Do lado de fora, de pé, ajeitou-se. Cabelos penteados, ar de superioridade. Quem a visse não desconfiaria da cena que ela recém-protagonizara.

Gesticulou, punhos firmes. Sinal de raiva, talvez arrependimento. Não sabia o que sentia àquela hora. A única certeza era uma profunda e pausada respiração que poderia ser ouvida perfeitamente não fosse o barulho da cidade grande em hora do rush. O que ela estava esperando? Queria que o namorado, com quem acabara de discutir duramente, viesse buscá-la? Certamente, não. 

De fato, em seus cinco minutos à frente da casa, ele não havia aparecido. Imaginou-se adentrando a porta atrás, como se nada tivesse acontecido. Hesitou, entretanto. Concluiu que fazendo isso, daria o braço a torcer. Era a demonstração da sua fraqueza moral. Nunca fora orgulhosa, nem seria em qualquer circunstância, dizia ela. Mas não se tratava de empáfia. Sua honra estava em xeque. Ao dar-se conta disso, instantaneamente foi embora. Não mais voltaria. 

Pouco depois, a porta se abriu. Claramente via-se uma face preocupada no limite entre o interior da casa e o lado de fora. Olhos para o jardim, como se estivesse à procura de alguém, e o rosto tomado por um sorriso de canto de boca. O limpador de piscina apontava no passeio. Chegara para o serviço.

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