por Carlos Alberto Barros
Val era uma moça recatada, tímida, só no seu cantinho. Todos a conheciam e abominavam: "Essa daí é doida. Não sai de casa pra nada, parece até um bicho!"
De certa maneira, era quase isso. Val estava sempre na sua toca gélida a se esconder da luz do Sol e dos ferozes predadores loucos para devorá-la com suas línguas e dentes afiados.
Acontece que em certa época do ano, como em um período de hibernação às avessas, Val saía para alimentar seu corpo.
Os que estavam à volta não acreditavam. Mas era ela, a Val. Não a presa, mas a predadora. Com suas garras e beiços pintados, suas plumas de pavão intimidador a bailarem em torno de si e o corpo nu mostrando a força de seus instintos primitivos.
Em seu novo visual Darwiniano, mostrando-se um dos animais mais evoluídos que jamais existiu, aguardava o som entorpecente dos tambores de batalha para saciar seus desejos secretos, aqueles trancados por muito tempo que, quando libertos, saem feito o mais santo e prazeroso dos martírios.
E os tambores ressoaram.
Um alguém qualquer num canto qualquer avistou Val parada e rosnou com volúpia:
"Encarna, Val".
Ela encarnou.
Passados alguns dias, lá estava novamente: desplumada, sem tintas, recatada, tímida... só no seu cantinho.
1 comentários:
Belíssima idéia para um texto mais denso, que ilustrasse essa dicotomia da sexualidade feminina, que precisa se esconder para não matar a mulher.
Parabéns! Eu acho que vale a pena investir nesse texto. Fiquei muito curiosa. Deu vontade de continuar.
Mas não revelaria no título a palavra chave...
Beijo,
Denise.
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