Resenha. Por Carlos Alberto Barros
Caso tivesse que ser escolhida uma cor para resumir o romance A Estrada, de Cormac McCarthy, ela seria cinza. O cinza paira em cada trecho da obra, seja de maneira literal ou metafórica. Noites escuras para além da escuridão e cada um dos dias mais cinzento do que o anterior – eis a segunda frase do livro, que nos é oferecida como uma profecia anunciando o conteúdo perturbador de suas páginas. O cinza retratado é o das desesperanças, das tristezas da alma, mas que, por mais intenso que seja, ainda deixa espaço para um pequeno arco-íris multicolorido que é o impulso para continuar caminhando.
A história relata a travessia de um homem e seu filho por uma estrada devastada. Os dois são sobreviventes de uma catástrofe que transforma o mundo numa terra sem leis, onde manter-se vivo é a única regra. O homem acredita que no final da estrada, chegando ao litoral, encontrará outros sobreviventes, e, juntos, poderão se ajudar na construção de um novo começo. Contudo, a jornada é muito mais árdua do que podia imaginar, e o que ele e seu filho encontram pelo caminho leva-os a se questionarem: para que continuar a caminhada?
Os dois seguem empurrando um carrinho de supermercado com seus poucos pertences – alguns restos de alimentos, cobertores para se protegerem do inverno desolador e um revólver de segurança contra os nômades assassinos. O amor e cuidado um com o outro é a única coisa que os faz seguir adiante.
Vencedora do Prêmio Pulitzer 2007, esta obra traz a emocionante história dessa jornada de pai e filho em busca de um fio de esperança. Para isso, o autor nos brinda com diálogos comoventes e silêncios que dizem muito. A forma como McCarthy escreve, de início, traz estranhamento e até certa monotonia, mas, no decorrer da narrativa, fica evidente a necessidade disso – é preciso detalhar as imagens, dizer que tudo é cinza, um mundo de cinzas que não se acaba. Também a ausência do uso de travessão, em certos pontos, dificulta na identificação dos diálogos entre pai e filho. Contudo, essa não identificação clara acaba reforçando a união dos dois, como dizendo que são um só.
Uma obra profunda, para se apreciar com paciência e alma aberta. Aos que se permitirem, será uma bela experiência de leitura.
A Estrada, de Cormac McCarthy – Editora Alfaguara/Objetiva, 2007.
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