Por causa dos delírios de grandeza dum ditador, a Alemanha nazista declarou guerra ao mundo.
A maior potência bélica de sua época desafiou as duas grandes nações de outrora, a Inglaterra e França, decidida a controlar os rumos - políticos e ideológicos - do mundo Ocidental.
Como bem sabemos, a Alemanha fracassou, e o país e seus habitantes pagaram um alto preço. Tal qual a punição ao herói trágico por sua hybris (desmedida), a Alemanha foi invadida, devastada, execrada globalmente, estigma que, de certo modo, o povo germano traz até hoje: uma imagem extremamente associada às sandices megalomaníacas de Hitler.
É interessante e curioso analisarmos o clima de histeria coletiva que dominou o povo alemão, a ponto de grandes intelectuais e artistas - Heidegger e Richard Strauss são dois exemplos - fecharem os olhos para as atrocidades e se curvarem ao Estado Nazista. Alguns deles logo se desvincularam, reconheceram seus erros, foram exilados ou se exilaram, outros foram consumidos pela loucura histórica.
A biografia do romancista Heinrich Böll nos conta que ele havia nascido numa família católica e contrária à ideologia nazista. Diferente de vários meninos e jovens de seu tempo, ele conseguiu escapar das malhas da Juventude Hitlerista, mas, quando a guerra estourou, não houve como fugir do alistamento. Böll chegou a ser prisioneiro de guerra, quando da invasão americana em Colônia, onde o autor nasceu e viveu. Por sua postura crítica, Heinrich Böll foi premiado com o Nobel de Literatura em 1972.
As memórias das atrocidades de guerra, duma infância turbulenta - sem entendimento sobre as grandes mudanças sociais que a guerra traria -, e o peso dum mundo pós-guerra estão presentes na obra "O Palhaço" (Ansichten eines Clowns, 1963).
O protagonista, Hans Schnier, é um artista em decadência.
Antes, um grande mímico, ele teve a vida arruinada pelo rompimento com a namorada, Marie Derkum, e pela bebida. No cerne do desentendimento, há uma profunda cisão religiosa. Marie se aproxima do catolicismo e dum profundo dilema imposto pelos dogmas católicos - a condenação do concubinato -, enquanto Hans, agnóstico declarado, defende a manutenção do relacionamento estável entre ele e Marie, sem a necessidade de casamento.
O romance transita entre estes dois limiares: as recordações de Hans de sua infância e dos tempos de glória como palhaço; e os vários desencontros ideológicos e dogmáticos existente entre ele e a namorada.
No fundo, Hans ainda anseia por reconstruir sua vida, mesmo que Marie já esteja nos braços de outro homem, do mesmo modo que a Alemanha também ansiava por um futuro melhor.
Apesar do intervalo de 15 anos entre o fim da guerra e a redação do romance, "O Palhaço" ainda lida com as chagas abertas da devastação e dos conflitos morais. A geração de Heinrich Böll era atormentada pelos fantasmas do passado, e a popularidade do autor ainda hoje na Alemanha, é uma prova de que estes demônios não foram completamente exorcizados.
A maior potência bélica de sua época desafiou as duas grandes nações de outrora, a Inglaterra e França, decidida a controlar os rumos - políticos e ideológicos - do mundo Ocidental.
Como bem sabemos, a Alemanha fracassou, e o país e seus habitantes pagaram um alto preço. Tal qual a punição ao herói trágico por sua hybris (desmedida), a Alemanha foi invadida, devastada, execrada globalmente, estigma que, de certo modo, o povo germano traz até hoje: uma imagem extremamente associada às sandices megalomaníacas de Hitler.
É interessante e curioso analisarmos o clima de histeria coletiva que dominou o povo alemão, a ponto de grandes intelectuais e artistas - Heidegger e Richard Strauss são dois exemplos - fecharem os olhos para as atrocidades e se curvarem ao Estado Nazista. Alguns deles logo se desvincularam, reconheceram seus erros, foram exilados ou se exilaram, outros foram consumidos pela loucura histórica.
A biografia do romancista Heinrich Böll nos conta que ele havia nascido numa família católica e contrária à ideologia nazista. Diferente de vários meninos e jovens de seu tempo, ele conseguiu escapar das malhas da Juventude Hitlerista, mas, quando a guerra estourou, não houve como fugir do alistamento. Böll chegou a ser prisioneiro de guerra, quando da invasão americana em Colônia, onde o autor nasceu e viveu. Por sua postura crítica, Heinrich Böll foi premiado com o Nobel de Literatura em 1972.
As memórias das atrocidades de guerra, duma infância turbulenta - sem entendimento sobre as grandes mudanças sociais que a guerra traria -, e o peso dum mundo pós-guerra estão presentes na obra "O Palhaço" (Ansichten eines Clowns, 1963).
O protagonista, Hans Schnier, é um artista em decadência.
Antes, um grande mímico, ele teve a vida arruinada pelo rompimento com a namorada, Marie Derkum, e pela bebida. No cerne do desentendimento, há uma profunda cisão religiosa. Marie se aproxima do catolicismo e dum profundo dilema imposto pelos dogmas católicos - a condenação do concubinato -, enquanto Hans, agnóstico declarado, defende a manutenção do relacionamento estável entre ele e Marie, sem a necessidade de casamento.
O romance transita entre estes dois limiares: as recordações de Hans de sua infância e dos tempos de glória como palhaço; e os vários desencontros ideológicos e dogmáticos existente entre ele e a namorada.
No fundo, Hans ainda anseia por reconstruir sua vida, mesmo que Marie já esteja nos braços de outro homem, do mesmo modo que a Alemanha também ansiava por um futuro melhor.
Apesar do intervalo de 15 anos entre o fim da guerra e a redação do romance, "O Palhaço" ainda lida com as chagas abertas da devastação e dos conflitos morais. A geração de Heinrich Böll era atormentada pelos fantasmas do passado, e a popularidade do autor ainda hoje na Alemanha, é uma prova de que estes demônios não foram completamente exorcizados.
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