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terça-feira, 6 de maio de 2008

Autor de Língua Portuguesa



Olavo Bilac
por Marcia Szajnbok

Muitos dos que, como eu, cresceram no Brasil durante o período da ditadura militar, associaram Olavo Bilac apenas à autoria da letra do Hino à Bandeira, compulsoriamente cantado repetidas vezes nos páteos escolares. Ou a versos de exaltação nacional, espuriamente declamados em meio ao típico “Brasil: ame-o ou deixe-o”, no pior cenário possível dos ideais ufanistas. Além disso, os parnasianos foram um dos alvos preferidos do movimento modernista no Brasil. E, em tempos de censura radical, tudo o que soa libertário torna-se rapidamente bandeira. Assim, declaramo-nos, muitos da nossa geração, com cinquenta anos de atraso, também anti-parnasianos. Há nisso alguma injustiça: primeiro porque o nacionalismo republicano de Bilac não tinha, de fato, nenhuma relação com os generais da ditadura; segundo, porque há uma vasta parcela de sua obra poética dedicada aos temas líricos, e é uma pena que esse aspecto tenha ficado um tanto eclipsado pelo uso político que se fez, em pleno século XX, de seu patriotismo abolicionista próprio do final do século XIX. Segue aqui uma pequena amostra desse lirismo. Que ele sirva de estímulo para que se busque mais!


Ouvir Estrelas


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Delírio


Nua, mas para o amor não cabe o pejo

Na minha a sua boca eu comprimia.

E, em frêmitos carnais, ela dizia:

– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!


Na inconsciência bruta do meu desejo

Fremente, a minha boca obedecia,

E os seus seios, tão rígidos mordia,

Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.


Em suspiros de gozos infinitos

Disse-me ela, ainda quase em grito:

– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.


No seu ventre pousei a minha boca,

– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,

Moralistas, perdoai! Obedeci...



Ciclo


Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,

Promessa ardente, berço e liminar:

A árvore pulsa, no primeiro assomo

Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!


Dia. A flor - o noivado e o beijo, como

Em perfumes um tálamo e um altar:

A árvore abre-se em riso, espera o pomo,

E canta à voz dos pássaros... Amar!


Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;

A árvore maternal levanta o fruto,

A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!



Noite. Oh! Saudade!... A dolorosa rama

Da árvore aflita pelo chão derrama

As folhas, como lágrimas... Lembrar!


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865. Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro e, posterirormente, no curso de Direito em São Paulo, não concluindo nenhum deles. Voltou ao Rio e passou a dedicar-se ao jornalismo e à literatura. Foi um dos mais ardorosos propagandistas da abolição, estreitamente ligado a José do Patrocínio. Escreveu em vários jornais, , substituiu Machado de Assis na seção "Semana" da Gazeta de Notícias, exerceu vários cargos públicos no Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da Liga da Defesa Nacional, tendo lutado pelo serviço militar obrigatório, que considerava uma forma de combate ao analfabetismo. Foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros pela revista
Fon-Fon em 1913. Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Foi um dos mais notáveis poetas brasileiros, prosador exímio e orador primoroso, participou da fundação da Academia Brasileira de Letras, na cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Olavo Bilac morreu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1918.
Fonte dos dados biográficos:
http://www.academia.org.br/abl


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