por: Carlos Alberto Barros
SONO
Vem, sono.
Vem
E tira-me deste pesadelo real,
Faz-me desfalecer em teus braços,
Leva-me contigo para o teu mundo.
Vem
Com tuas vestes escuras, desnuda-me a visão,
Sacia-me a fome com teu surreal alimento.
Vem
Para anestesiar-me do cotidiano doído,
Para que eu diga que tive ao menos um sonho realizado.
Vem
E permita-me esquecer o frio.
Molha-me a mente daquilo que falta em meus lábios.
Vem, sono.
Vem dar-me tudo isso
E quantas mais inconstantes loucuras quiseres oferecer.
Só não te esqueças, ao final, de conceder-me o mais importante:
A tua ausência.
CORDEL PÓSTUMO DE UM BULINADOR
Em tua via,
Uma placa havia.
Contramão, dizia,
E eu não quis parar.
Nesse dia,
Com pavor, fugia
Naquela bacia
De tu te banhar.
Nostalgia
Era o que eu vivia.
Tua pele macia
Queria apalpar.
Heresia
Pensei que tu via,
Mas, já lá na pia
Estava a chamar.
Todavia,
Minha mente fazia
Eu ter precavia
E não descuidar.
Porcaria!
Como é que podia?
De medo, em folia
Tu te transformar?
Só devia
De ser fantasia:
Tudo que eu queria,
Era só pegar.
Na alegria,
De mansinho, eu ia,
E tu só sorria,
Já toda a pulsar.
Putaria
Da boca saía.
Aquilo eu ouvia
Sem nem me tocar.
Que vadia!
Com a navalha fria,
Que nem cirurgia,
Um golpe foi dar.
Valentia
E muita ousadia!
Como te atrevia
A vir me cortar?
Percebia
Que o sangue fluía,
Meu membro pendia
E eu a gritar.
Já caía,
E bem triste eu ria
Daquela ironia
Que fui me enfiar.
Covardia!
Minha mãe já dizia:
“Filho, não confia...
Tu vai te estrepar”.
Insistia
E bem já sabia
Que burro eu nascia,
Ia vacilar.
Parecia
Que era profecia.
Tudo acontecia,
E eu a lembrar.
Fantasia,
Que a vida fazia?
E a hemorragia
Sem nunca estancar?
Só sentia
Que, aos poucos, morria.
E ali eu jazia,
Sem mais bulinar.
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