Henry Alfred Bugalho
As manchas de sangue na cueca de Marquinhos causaram estranhamento. A mãe, ingênua, primeiro pensou que pudesse ser alguma infecção. Há anos que Joana não dava banho do filho, mas insistiu; porém, constrangido, Marquinhos, com treze anos, discordou.
— Que isto, mãe! Já sou quase um homem. Que negócio é este de querer dar banho em mim.
Joana conversou com amigas e nenhum delas sabia o que dizer, até que Flávia comentou, embaraçada:
— Uma vez, eu e meu marido fizemos por trás... Depois, por alguns dias, saiu sangue de lá.
As mulheres riram, descartaram esta hipótese, pois Marquinhos era homem e homem não dá o rabo. E, além disto, quem estaria enrabando Marquinhos?
No entanto, tal conjetura não abandonou Joana. Passou a bisbilhotar Marquinhos, quando ele estava com amigos, com quem andava no colégio. Nada que pudesse indicar um comportamento estranho. Foi por isto que Joana me procurou, para descobri quem estava comendo Marquinhos.
Obtive as mesmas conclusões dela, não eram os amigos, nem colegas de escola, Marquinhos tinha, inclusive, uma namoradinha no colégio, e dava belos amassos na garota durante o intervalo do recreio, mãos no peitinho e dentro da calcinha.
Santo o rapaz não era, e isto já era um bom começo.
Marquinhos tinha a rotina comum dum menino da idade dele: ia à escola durante o dia, jogava futebol no cair da tarde, flertava com a namoradinha à noite, jantava com a família, era coroinha nas missas de domingo.
“Tente enxergar o óbvio, Vico!”, eu dizia a mim mesmo.
Depois da missa, Marquinhos acompanhava o padre até a sacristia e desaparecia por quase duas horas.
Estaria acontecendo algo inusitado neste tempo? Além disto, caso minhas suspeitas se confirmassem, não seria nada fácil incriminar um bispo influente como Dom Francesco.
Fui à missa no domingo, e, se minha carreira de detetive não houvesse me preparado para a espera e a monotonia, certamente teria dormido com a ladainha em latim de Dom Francesco.
O culto foi encerrado e bispo e coroinha se retiraram para a sacristia. Os fiéis deixavam a igreja, enquanto eu me esgueirava por entre eles para alcançar o altar e descobrir o que se sucederia.
Na sacristia, havia uma porta que conduzia a um prédio anexo, onde se localizava a residência do bispo. Cheguei a tempo para vê-los entrar por esta porta e trancá-la.
Na semana seguinte, fui mais esperto. Dom Francesco rezava a missa, aproveitei para me infiltrar na sacristia e ingressar no alojamento do bispo, uma cela decorada com suntuosidade, ao invés do esperado ascetismo. Escondi-me no guarda-roupa, cuidando para deixar aberta uma fresta por onde assistir ao que estava por vir.
Após um quarto de hora, Dom Francesco e Marquinhos entraram na cela. Este ajudou o bispo a retirar a batina, logo percebi que o santo homem estava com o pau ereto. Fez um sinal para Marquinhos, que se ajoelhou e passou a chupar o padre.
Aquilo me fez ter engulhos, se eu não estivesse escondido, teria vomitado ali mesmo. Mas esta cena seria apenas a primeira dos absurdos que presenciei. Depois, dum baú, o bispo retirou um açoite e o entregou a Marquinhos:
— Você sabe o que fazer — Dom Francesco disse, então, virou-se para o rapaz e se preparou para ser flagelado. Marquinhos fazia o chicote estalar nas costas e nádegas do padre, que gritava, descontrolado — Mais, mais, mais!
Em seguida, Marquinhos enfiou o cabo do chicote do cu do padre, para grande deleite deste (e desespero meu). Por fim, o bispo se voltou e foi a vez dele sodomizar o garoto. As manchas de sangue na cueca estavam explicadas.
Marquinhos recebeu uma bela quantia de dinheiro do bispo e partiu. Dom Francesco adormeceu, em êxtase. Pude, enfim, deixar aquele antro.
— Dom Francesco? Não é possível! — Joana se descabelava, roendo as unhas — Você tem de estar errado... Por favor.
— Entendo que você não queira acreditar. Por isto, eu lhe direi como proceder. Somente assim você livrará seu filho deste pervertido.
No domingo, na hora do almoço, a polícia e jornalistas cercaram a residência do bispo. A polícia invadiu a cela e apanhou Dom Francesco e Marquinhos em flagrante.
Sob o flash das câmeras da imprensa, o bispo berrava, justificando-se:
— Isto foi obra do diabo! Obra do diabo!
Recordei-me de meu avô, com sua simplória sabedoria, que sempre repetia: “O diabo está em nós”.
1 comentários:
Se o Diabo não existisse, seria necessário pôr a culpa em nós mesmos, não é?
Excelente, Henry. Excelente.
Postar um comentário