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sábado, 28 de fevereiro de 2015

EPITÁFIO

         Puxado por um carro de boi, abria caminho diante do cortejo o ataúde de seu Tomás Fuleiro. O vento quente e poeirento das tardes de agosto levantava as saias das carpideiras e arrancava os chapéus dos homens que seguiam ao lado da pobre carroça....





sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Colcha de Retalhos #6

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI: CONTRA O TEMPO Explicou ao filho as coisas da vida e do tempo. Para facilitar, usou o relógio de exemplo: - Aquele é o tempo, passando. - Ele fica dando voltas? - Nem sempre, às vezes...





quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Sem cabimento

Era um amor que ofendia. Incomum, genuíno, esdrúxulo, amoroso demais. Insultava porque ninguém, até então, pudera vivenciá-lo. Nem houvera quem sonhasse experimentar algo assim. Quem acreditaria num amor daquele jeito, que aceitava carinho amizade conversa carícia atenção cumplicidade respeito amor bem-querer harmonia alegria esperança, sem traição, ruptura, nem desejo de fim? Quem creria naquele absurdo de amor? Só podia ser farsa! Tal espécie de sentimento...





quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Querida mãezinha!

Embora compreenda quem se lamenta da sua triste sina e não para de tecer teorias da conspiração sobre a própria sogra, eu não tenho razões de queixa. Mal vejo a minha. É claro que antes sofri muito. Nos primeiros meses de casado, perdi dez quilos. Dormia mal, tinha pesadelos em que era atacado...





terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

TROVA - EDWEINE LOUREIRO

Amigos, a partir deste mês, publico uma série de trovas. Começo com o tema “Vento”. E o responsável por esta linda concepção visual  é meu querido e talentoso poeta-amigo Geraldo Trombin. Espero que curtam a leitura e até o próximo mês! Abraços poéticos. Edweine Loureiro ...





domingo, 22 de fevereiro de 2015

Casquinha de bebê

Mãe de segunda viagem, a Mariana sabia exatamente o que era parir, mas estava apreensiva com a filha mais velha, nascida cinco anos e três meses antes. A caçula chegaria em alguns dias, bolsa do bebê organizada e o quarto amarelo pronto para o retorno da maternidade. Não sabia ainda quem cuidaria da Roberta durante a maratona do hospital. Queria sua mãe do lado, do pronto socorro à observação, do marido fazia questão, com o pai e os sogros, falecidos, só...





sábado, 21 de fevereiro de 2015

Somos Todos Capadócios

— Boa tarde, delegado. — Boa… — Sabe o que me traz a sua honrada delegacia? — Certamente, doutor advogado. Veio ver o assassino. — Preferia chamá-lo de injustamente acusado. — Como quiser. — Delegado, não há dúvida que o meu cliente é inocente. O delegado espantou-se com a notícia. — Seu cliente? — Exatamente. A Cúria contratou os meus serviços. — Era só o que faltava! Doutor, sejamos sensatos! — Sensatos,...





sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O nó de Marieta

Marieta fazia de nossas manhãs um ritual quase litúrgico. Digo "quase" porque a celebração era íntima e desprovida de devoções a santos, orixás, entidades, veneráveis virtuosos ou encarnações do tinhoso. E digo "litúrgico", porque o ciúme de Marieta era uma fé religiosamente cultivada, algo transcendental que conduzia nossa vida matrimonial com desígnios, dogmas, superstições e atitudes que beiravam a beatice fundamentalista. Marieta carregava como uma cruz...





Pelos fundilhos do leitor

Na última onomatopeia, meus dedos travaram. Não sei explicar direito, talvez, ou ainda, de alguma maneira, altivo, vi com os velhos olhos acometidos pelos anos, a presença que agora as minhas retinas infantis presenciam. O convívio com os anos se tornou uma prática que venho diariamente encontrando nas caminhadas pela orla. Tão diferentes daquelas mesmas pernas brancas embutidas no bonde, vejo um desfiladeiro de Botafogo, Tijuca, Centro, Ipanema e Paquetá....





quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Histórias de sonhos

Para Diva Eu a conheci num lançamento de livro. A música que tocava era diferente de quase tudo que estamos habituados. Música contemporânea experimental, creio que era este o nome. Enquanto muitos pareciam estranhar, ela demonstrava prazer e alegria. Logo soube que tinha a ver com seu neto, que foi morar nos Estados Unidos justamente para estudar esse tipo de música.  Da música e do neto passamos a falar de outros assuntos, e ela começou a contar episódios...





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Você pode ser um leitor-nada - poema de Leonardo Mathias

“– você pode ser um leitor-nada e, se realmente não acreditar em nada, ainda pode ler um livro sobre isso: você pode ser mulher, e isso não é nada, como nada é ser homem, afinal, você terá de raspar os pelos e isso também não faz diferença: – a vida está cheia de nada e, ainda assim, tensiona as coisas – e por isso seguimos insistindo, mesmo [por nada]” do livro (...) ou reticênciasentreparênteses, Editora Pat...





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Depoimento de uma mulher que apanha

De tudo o que nos incrimina, o que nos condena é a mudez. (cinthia kriemler) Eu fico olhando ele dormir toda noite. Ele não faz um ruído, sabia? É uma coisa assustadora. Não ronca, não respira alto. Parece alguém em coma; um semimorto. Como é possível? Isso não é justo. Não está certo...





sábado, 14 de fevereiro de 2015

se um dia...antes

Apeteceu-lhe ir escorregando por uma rua sem fim, uma rua muito inclinada e muito, muito, sem término nem que fosse em pensamento. Uma rua imensa, mas nem lisa, um piso com altos e baixos de modo que, de onde em onde, pelo percurso, lhe pulasse o corpo, fosse este torturado, os ossos a furarem a...





ÚLTIMO POEMA

                   ÚLTIMO POEMA Cecília Maria De Luca                                                      ...





quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sacro Ofício

Por Lohan Lage Pignone A poesia causa dor lacerante Na folha de papel Que vê ceifada a sua pureza Quando tocada pelo cabo úmido De uma pena, com sutileza. Desvirginada, a folha antes casta Agora de sua essência se afasta Cedendo todas as suas margens Às invasoras que se dizem marginais. Outros seres a possuem Sem permissão. Objetos pontiagudos, Nas mãos de homens mudos Que só dizem em poesia Maculando a honra daquela Cuja dor lhes...