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domingo, 27 de setembro de 2015

Colcha de Retalhos #13

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI: TULIPAS NEGRAS Ouvia, via e sentia a tristeza alheia. A angústia lhe estufava o peito, o ar ficava pesado e os ombros recolhiam-se enquanto as mãos passavam pelo rosto suado. E foi...





sábado, 26 de setembro de 2015

Trem custoso

A vida é um trem custoso. O dia a dia é complicado. Tem despertador que funciona, relógio que não para, dívidas que nem cochilam. O noite a noite traz insônia, obstrução nasal, zumbido de muriçoca, soluço de bebê, pesadelo. Não faltam atravancos, contratempos, embaraços, desarranjos, encalhes, estorvos, abacaxis, pepinos, tropeços. Pense bem. Viver é passar perrengue. A vida é a arte do sufoco. Não gostou da minha máxima? Achou que é filosofia barata? Sabedoria...





sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A Caixa de Arquimedes

— Eu nem queria acreditar! — o tom teatral do meu amigo Rui, na fila de almoço da cantina da faculdade, prometia história. — As peças do Ostomachion, em vez de estarem arrumadinhas no caixilho delas, estavam ao lado, ostensivamente, a formar um triângulo retângulo. Somos colegas do curso...





quinta-feira, 24 de setembro de 2015

TROVA DE EDWEINE LOUREIRO _ TEMA: PÃO

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terça-feira, 22 de setembro de 2015

O tempo de Ana

O tempo para – estaciona, congela, faz hora – para quem reconhece o próprio caos e assume que está ali na beirinha, colocando os dedões dos pés no precipício. Parece improvável, mas acontece de o tempo se apiedar dos desesperados extremos naqueles instantes de lucidez antes da queda e andar mais devagar, esperando uma mudança de rumo. É como se o tempo olhasse o sujeito nos olhos, colocasse as mãos firmes em seus ombros e sem dizer palavra o encorajasse a....





segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desejo

Estancou maravilhado diante daquele peitão ali à mostra. E as coxas carnudas então? Deixavam qualquer mortal babando de vontade. Entusiasmou-se com sua pele bronzeada, douradinha, cheirosa. Mas era um sonho quase inatingível para ele, um reles mendigo. Resolveu passar o dia esmolando na esperança de...





domingo, 20 de setembro de 2015

O BECO

Na minha rua tem um beco transversal e sem saída. Tenho medo do beco. Nunca passo perto dele à noite. Sempre atravesso para o outro lado. Ele é escuro, sem poste, sem lampião. Um breu. Eu sei: ali moram monstros, medusas, zumbis, crianças vomitando ectoplasmas, caixões semiabertos exalando fogo-fátuo, carrascos com touca de banho, torturadores sorridentes, bruxas cozinhando ensopado de esquartejados, lobos cegos, diabos de smoking e patas de cabra, anjos...





sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Faz zunzum pra mim

Faz quase duas semanas que passo por um cartaz colado em uma banca de jornais da Avenida Paulista e leio o seguinte título: “DOCE COM ATITUDE”. Não faço a mínima ideia do que possa ser tal mistura, e a foto da capa da revista que traz tal título apresenta uma moça com ar tipicamente angelical...





quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Distraídas astronautas - poema de Simone Teodoro

Distraídas astronautas O céu sempre me pareceu tão masculino todo azul e com um deus morando  dentro (segundo as narrativas da mãe quando eu ainda era o inchaço em seu ventre e captava sussurros pelas viscosidades da placenta). Um deus de barba branca no trono, ela dizia. Trovejante voz paterna ordenando o alternar dos dias e das estações e dos tons de azul do céu que sempre me pareceu tão masculino Porque lá tinha um trono. Porque lá tinha uma...





quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Madrugada

São três da madrugada. Ou falta pouco. O homem do barulho acabou de chegar aqui embaixo na rua. O som, parecido ao de um tambor, é o alerta. Quando ouvi pela primeira vez, meses atrás, acordei assustada. Algum ladrão tentando abrir os carros, com certeza. Não era. Tampouco um bicho virando latas....





terça-feira, 15 de setembro de 2015

no início

no início, o livro é assim:            O teu pai gostava de ir à fruta, e levava-te.           Seguia por estradinhas de terra, e nem um alcatrão que ali fosse esquecido entre buracos, as mais das vezes repletos com água da última chuvada. Alcatroado,...





sábado, 12 de setembro de 2015

Você fez casa em mim

(por Lohan Lage) Você fez casa em mim.  Aconchegou-se no terreno do meu coração, até então revolvido por ilusões movediças e erosões fora de hora. Regou com sorrisos tímidos e olhares esquivos que, aos poucos, fundiram-se aos meus. Alicerçou suas emoções e plantou, na fachada do coração, a semente...





quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Aqualung

Henry Alfred Bugalho As pregas da saia subiam e desciam, na cadência da corda a girar. Do outro lado da cerca, sentado na calçada, queixo apoiado nos punhos, cão sarnento a dormir ao lado, o mendigo torcia para que uma lufada, terríveis neste inverno, viesse e erguesse a saia da menina ainda mais....





quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Pequenas estórias

Dicotomia Pedro adorava livros. Lê bastante, filho, pra se tornar alguém na vida, dizia-lhe a avó. Ler não enche barriga nem constrói casa. Larga disso, menino, repreendia-lhe a mãe. Pedro já não se importava; a vida havia sido dura com ela. Não deixava de ler, mesmo tendo que cuidar do irmãozinho. Era-lhe como um pai, ainda que desconhecesse essa figura. Certo dia, Pedro falou que precisava ir à biblioteca. Não vai, menino. Palavra de...





segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Morte líquida

Imagino o frio do mar que vê o urso morrer aos poucos e espera feito louco que sua carcaça afunde              rápido demais              pela leveza do ser pra dar de comer a outros tão mortos de fome quanto as crianças que fogem de barco de medo da guerra e se perdem por outros mares menos gélidos            talvez mais revoltos Deixam à beira da praia seus...





sexta-feira, 4 de setembro de 2015

RESENHA: O conto do covarde, de Vanessa Gebbie

Meu nome é Ianto Jenkins. Sou um covarde. São palavras que já ecoaram antes por esta cidade. E hoje serão ditas novamente por Ianto Passchendaele Jenkins, agora miúdo e grisalho, de jaqueta cáqui e boné quase da mesma cor, o mendigo que dorme na varanda da Capela Ebenezer, num banco de pedra, com a mochila como travesseiro e um relógio sem ponteiros caído nas lajotas ao lado de suas botas. As palavras serão ditas diante da Biblioteca Pública...





quarta-feira, 2 de setembro de 2015

MEDO

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