Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Distraídas astronautas - poema de Simone Teodoro


Distraídas astronautas

O céu sempre me pareceu
tão masculino
todo azul
e com um deus morando  dentro

(segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).

Um deus de barba branca
no trono, ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.

Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.

Odores de fêmea
umedecem os ares.

A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras

A lua, pálida ou vermelha
ou quando uma sombra ameaça
sua estranha claridade.

E de perto (bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.


Do livro Distraídas Astronautas (Editora Patuá).

Share


Rafael F. Carvalho
Autor do livro A Estante Deslocada, é paulistano, nascido em 27 de Fevereiro de 1978. Foi publicado em antologias de novos escritores e em jornais universitários, e é formado em Letras pela Universidade de São Paulo.


todo dia 17


0 comentários:

Postar um comentário