Distraídas astronautas
O céu sempre me pareceu
tão masculino
todo azul
e com um deus morando dentro
(segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).
Um deus de barba branca
no trono, ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.
Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.
Odores de fêmea
umedecem os ares.
A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras
A lua, pálida ou vermelha
ou quando uma sombra ameaça
sua estranha claridade.
E de perto (bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.
Do livro Distraídas Astronautas (Editora Patuá).
tão masculino
todo azul
e com um deus morando dentro
(segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).
Um deus de barba branca
no trono, ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.
Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.
Odores de fêmea
umedecem os ares.
A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras
A lua, pálida ou vermelha
ou quando uma sombra ameaça
sua estranha claridade.
E de perto (bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.
Do livro Distraídas Astronautas (Editora Patuá).
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