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domingo, 20 de setembro de 2015

O BECO


Na minha rua tem um beco transversal e sem saída.
Tenho medo do beco.
Nunca passo perto dele à noite. Sempre atravesso para o outro lado.
Ele é escuro, sem poste, sem lampião. Um breu.
Eu sei: ali moram monstros, medusas, zumbis, crianças vomitando ectoplasmas,
caixões semiabertos exalando fogo-fátuo, carrascos com touca de banho,
torturadores sorridentes, bruxas cozinhando ensopado de esquartejados,
lobos cegos, diabos de smoking e patas de cabra, anjos caídos disfarçados
em arbustos secos, restos eretos de castração, pelotões de baratas cascudas
com ferrão nas antenas, esquadrilhas de morcegos sanguinários, ninhos de metralhadora,
a doida de olhos furados, a velha nua de cabelos de Rapunzel e vagina grisalha,
bodes de chifres incandescentes, unicórnios com pés de rapina,
imensos coelhos esquálidos, galinhas depenadas chocando cabeças decepadas,
cascavéis do tamanho de sucuris, crocodilos do Nilo e cocô de cachorro.
Quando passo perto do beco à luz do dia, até considero não mudar de calçada.
Mas não arrisco olhar para dentro dele, não.
Aperto o passo de olhos trancados. Vai que só tem o cocô de cachorro.
Tenho medo de me decepcionar.

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José Guilherme Vereza
Carioca, botafoguense, pai de 4 filhos. Redator, publicitário, professor, roteirista, escritor, diretor de criação. Mais de mil comercias para TV e cinema. Uma peça de teatro: “Uma carta de adeus”. Um conto premiado: “Relações Postais”. Um livro publicado “30 segundos – Contos Expressos”. Mais de 3 anos na Samizdat. Sempre à espreita da vida, consigo modesta e pretensiosamente transformar em ficção tudo que vejo. Ou acho que vejo. Ou que gostaria de ver. Ou que imagino que vejo. Ou que nem vejo. Passou pelos meus radares, conto, distorço, maldigo, faço e aconteço. Palavras são para isso. Para se fingir viver de tudo e de verdade.
todo dia 20


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