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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Raro leitor

Raro leitor, “Um dia a gente chega, no outro vai embora”, diz a letra da belíssima canção Tocando em frente. Em tudo na vida é assim: tem a hora do encontro, tem a hora da despedida. Depois de vinte e três textos, chegou a hora de me despedir. Faço-o a contragosto e tão-somente pela necessidade...





O CAMINHO DA ÁGUA

Diante da televisão, Mohsen parece em transe. Como na primeira vez que vira o filme dirigido por Luc Besson, a cena final de Léon o comove. Não serei mais o Jean Reno xiita. Não salvarei minha própria Matilda. Não ensinarei nada a ninguém. O efeito do ácido inebria...





terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Colcha de Retalhos #5

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI: VISIONÁRIOS Os donos do mundo sabem que o petróleo derivou-se de animais e vegetação soterrados Pensando no futuro, matam, desmatam e encobrem LABIRINTO Costumava dizer que estava...





segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O equilíbrio que noutrem abunda

Existe algo que sempre me causou inveja e despeito: o equilíbrio alheio, enquanto outro algo me impinge raiva e autocomiseração: o desequilíbrio próprio. Não estou falando aqui daquele controle, serenidade e moderação no campo das ideias e do diálogo. Esse tipo de discrição até que me faz companhia com certa frequência. Falta-me sempre, dia a dia — negando-me a brisa da graça até em momentos primordiais —, é o domínio corporal. Não me sustento na corda bamba...





domingo, 25 de janeiro de 2015

As Incertezas de Crpt

Joaquim Bispo Quando Crpt se religou, encontrou-se sentado na zona de acesso às partidas aéreas da cidade arqueológica de Ur. De imediato, detetou o imperativo de entregar uma mensagem impregnada na área encriptada, dirigida ao arqueólogo “Gilgamesh”. A instrução de ação era clara — “A mensagem...





sábado, 24 de janeiro de 2015

O BARBEIRO

Entrei desconfiado. Afinal de contas, no quesito “corte de cabelo”, o Japão sempre foi para mim uma gigantesca babel. E não somente pelas dificuldades com o idioma, mas principalmente pelos embates que tenho tido com os barbeiros nipônicos no momento de pedir o tipo de corte. Ou eles exageram,...





quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

As pombas da rodoviária

Duas senhoras que aguardam a chegada do coletivo 1075 prevista para as vinte horas falam do clima, da política e da inconveniência das pombas que andam e voam rasantes perto das cabeças, das taças de café com leite e das torradas com margarina, presunto e queijo, na rodoviária. Comparam as pombas aos ratos e o efeito imediato da imagem é de contração em ambas as caras, rugas ainda mais acentuadas na testa e ao redor da boca, o nojo compartilhado. Elas têm...





quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Polaquinha

Mestre da narrativa curta, quase haicais em forma de prosa, Dalton Trevisan sempre foi cobrado pelos seus leitores a aventurar-se em uma história mais longa. Dezoito livros de contos depois nascia, em 1985, A Polaquinha, novela de que narra as estripulias de uma jovem curitibana no universo do sexo. Polaquinha,...





terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A época mais feliz

Mentir sempre foi uma das minhas benevolências mais praticadas com a minha mãe. Tudo o que eu como filho não poderia suportar era o lamento materno fustigado pela decomposição familiar. Quem olhava para a mesa da cozinha poderia imaginar que a miséria estava distante. Uma toalha feita com sobras de tecido era cerzida com a delicadeza daqueles dedos desgastados de D. Lucia. Nas prateleiras ao redor daquele espaço umas tábuas fixadas na parede sustentavam poucas...





Desembarque

O avião pousou com tal suavidade, que o comissário soltou um comentário típico de um entusiasta pela própria profissão: touché. Logo ele, pensei, tão acostumado com subidas e descidas, ainda é capaz de se encantar com um toque suave no planeta. A partir daí, os agradecimentos de sempre, as recomendações de permanecerem sentados até o completo estacionamento da aeronave e muito cuidado ao abrir os compartimentos de pequenas bagagens sobre as poltronas. Doze...





domingo, 18 de janeiro de 2015

“As asas da barata são mais úteis que as da galinha”: Os dias quentes se arrastam mornos, de Sidney Summers

Os dias quentes se arrastam mornos (Coisa Edições, 2014) chegou pelo correio, enviado pelo próprio autor, Sidney Summers, e de cara me agradou. O texto presente em sua quarta capa fisga o leitor por sua rudeza e força estética: “Eu só acredito em quem sente frio. Por dentro ou por fora. Eu só acredito...





sábado, 17 de janeiro de 2015

O gosto dos dias

                              A garrafa de água fica do lado de fora, não guardo na geladeira. Gosto do gosto dos dias.                                           ...





sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Um conto madrilenho

Só alguém como ela, nascida em Las Barranquillas, sabia dar valor às acomodações que recebera na casa do Sr. Velásquez. Era grata pelo quarto, pelo emprego, pelo silêncio quase permanente do idoso, que preferia calar-se a ter que se dirigir a ela ou a qualquer outro com a voz arrastada pelo Parkinson.O...