Mestre da
narrativa curta, quase haicais em forma de prosa, Dalton Trevisan sempre foi
cobrado pelos seus leitores a aventurar-se em uma história mais longa. Dezoito
livros de contos depois nascia, em 1985, A Polaquinha, novela de que narra as estripulias
de uma jovem curitibana no universo do sexo.
Polaquinha, cujo
verdadeiro nome nunca nos é revelado ao longo da narrativa, leva uma vida
medíocre, com namorados e amantes não menos ordinários do que ela. O primeiro, um
moleque asmático, o segundo um jovem imberbe com problemas de coluna trocado
por um advogado mau caráter e manco que por sua vez dá lugar a um motorista de
ônibus de maus bofes e desempenho na cama proporcional à sua canalhice. Todos
eles, de uma forma ou de outra, usam e abusam de Polaquinha que, mergulhada em
um oceano de prazeres, deixa-se levar passivamente.
A prosa é
enxuta, levemente pornográfica, contudo divertida. Rimos. Às vezes um riso de
compaixão por uma moça que se deixa ingenuamente enganar por tipos de homens
tão baixos, mas presentes no imaginário brasileiro. Em outras ocasiões o riso é
amarelo, de identificação. Quantas Polaquinhas já não foram vítimas da nossa
lábia, canalhas de plantão?
Os capítulos
finais do livro simbolizam de certa forma a tragicômica mesmice em que Polaquinha se
meteu (trocadilho forçado), numa constante troca de parceiros em um dia comum
de uma moça que decide “dar-se” para ganhar uns trocados a mais dentro de um
bordel fuleiro. O texto quase que se repete, inclusive nos diálogos, a despeito
da rotatividade de clientes. Polaquinha nos desperta compaixão, pero sin perder la sensualidad.
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