Os
dias quentes se arrastam mornos (Coisa
Edições, 2014) chegou pelo correio, enviado pelo próprio autor, Sidney Summers,
e de cara me agradou. O texto presente em sua quarta capa fisga o leitor por
sua rudeza e força estética: “Eu só acredito em quem sente frio. Por dentro ou
por fora. Eu só acredito em quem se desespera”. É assim que o livro nos convida
à leitura, para nos desesperarmos junto com ele, junto com o narrador e
protagonista da maioria dos seus contos (ou serão todos?), Will Cagliostro,
este personagem com nome de mafioso, habitante de alguma cidade muito quente,
tão quente quanto sua vida é morna, embora nem sempre, já que ele está sempre
se defrontando com situações tensas, envolvendo brigas e desentendimentos.
Solitário, Cagliostro é não
apenas rabugento e boca-suja, mas aquele que parece se autorrelegar ao
submundo, à vida chã das coisas mais ínfimas, ainda que conheça filosofia e
muito mais. Bebe exageradamente, trabalha nos serviços mais rente ao chão, como
num açougue, ou descascando batatas apodrecidas que serão utilizadas para
compor pratos no restaurante degradado, degradante. Will é constantemente
humilhado, mas humilha também, passa por cima de quem pode, quando pode. Não
tem piedade de nada ou ninguém, nem mesmo de si. Insone, vaga pelas ruas, em
busca de sabe-se lá o quê. Mas, na sujeira mais suja em que se encontra, revela
um desejo de pureza, de limpar-se, que se amplifica pelas inúmeras vezes em que
se vê às voltas com o combate com insetos.
Os insetos, aliás, parecem
persegui-lo, vão aonde ele vai, esgueirando-se pelas paredes, escondendo-se
atrás do vaso sanitário, passando por seus pés. São principalmente eles, seres
repulsivos, que despertam no protagonista o ódio mais doido, a necessidade de
deles se livrar, de limpar-se deles e limpar o ambiente da presença rastejante
e incômoda.
Insetos, ainda, que parecem
ser uma constante na obra de Sidney Summers, jovem escritor soteropolitano que tem
contos publicados em diversas revistas nacionais (Ellenismos, Cruviana, Jornal Relevo, Desenredos, Cinzas no Café,
Verbo 21, dentre outras) e é autor de
Como os velhos cães (Coisa Edições,
2014), além de coautor de Ratos com asas
(Clube de Autores, 2010), e Pão com
recheio de sobras (inédito). Talvez a influência de Bukowski e seus
companheiros seja ainda muito presente. Talvez a faca ainda precise passar mais
em suas frases, cortando-lhe arestas indesejadas. Pode ser. Mas o fato é que
este moço tem força narrativa, tem ímpeto, tem habilidade e talento para o
trato com as palavras. Sua voz já foi encontrada. Agora é continuar na
caminhada.
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