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domingo, 18 de janeiro de 2015

“As asas da barata são mais úteis que as da galinha”: Os dias quentes se arrastam mornos, de Sidney Summers


Os dias quentes se arrastam mornos (Coisa Edições, 2014) chegou pelo correio, enviado pelo próprio autor, Sidney Summers, e de cara me agradou. O texto presente em sua quarta capa fisga o leitor por sua rudeza e força estética: “Eu só acredito em quem sente frio. Por dentro ou por fora. Eu só acredito em quem se desespera”. É assim que o livro nos convida à leitura, para nos desesperarmos junto com ele, junto com o narrador e protagonista da maioria dos seus contos (ou serão todos?), Will Cagliostro, este personagem com nome de mafioso, habitante de alguma cidade muito quente, tão quente quanto sua vida é morna, embora nem sempre, já que ele está sempre se defrontando com situações tensas, envolvendo brigas e desentendimentos.
Solitário, Cagliostro é não apenas rabugento e boca-suja, mas aquele que parece se autorrelegar ao submundo, à vida chã das coisas mais ínfimas, ainda que conheça filosofia e muito mais. Bebe exageradamente, trabalha nos serviços mais rente ao chão, como num açougue, ou descascando batatas apodrecidas que serão utilizadas para compor pratos no restaurante degradado, degradante. Will é constantemente humilhado, mas humilha também, passa por cima de quem pode, quando pode. Não tem piedade de nada ou ninguém, nem mesmo de si. Insone, vaga pelas ruas, em busca de sabe-se lá o quê. Mas, na sujeira mais suja em que se encontra, revela um desejo de pureza, de limpar-se, que se amplifica pelas inúmeras vezes em que se vê às voltas com o combate com insetos.
Os insetos, aliás, parecem persegui-lo, vão aonde ele vai, esgueirando-se pelas paredes, escondendo-se atrás do vaso sanitário, passando por seus pés. São principalmente eles, seres repulsivos, que despertam no protagonista o ódio mais doido, a necessidade de deles se livrar, de limpar-se deles e limpar o ambiente da presença rastejante e incômoda.

Insetos, ainda, que parecem ser uma constante na obra de Sidney Summers, jovem escritor soteropolitano que tem contos publicados em diversas revistas nacionais (Ellenismos, Cruviana, Jornal Relevo, Desenredos, Cinzas no Café, Verbo 21, dentre outras) e é autor de Como os velhos cães (Coisa Edições, 2014), além de coautor de Ratos com asas (Clube de Autores, 2010), e Pão com recheio de sobras (inédito). Talvez a influência de Bukowski e seus companheiros seja ainda muito presente. Talvez a faca ainda precise passar mais em suas frases, cortando-lhe arestas indesejadas. Pode ser. Mas o fato é que este moço tem força narrativa, tem ímpeto, tem habilidade e talento para o trato com as palavras. Sua voz já foi encontrada. Agora é continuar na caminhada.

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