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quarta-feira, 24 de março de 2010

Sempre há uma verdade.... (Parte 3)

(Maristela Scheuer Deves)Passei o resto da manhã vomitando. Gripe, com certeza, insistiu minha mãe, mas não conseguiu fazer com que eu tomasse mais chá. Eu nunca fora muito fã de alho, mas naquele dia ele decididamente me embrulhava o estômago. Na verdade, era pior: a simples visão do chá me fazia suar ainda mais, ao mesmo tempo em que sentia o frio se apossando do meu corpo.Achei melhor voltar para a cama, até porque a claridade do sol parecia ferir meus...





terça-feira, 23 de março de 2010

Ínfimo brilho - Giselle Sato

Ela observava as ondas, deixando que as marolas lambessem seus pés descalços, ignorando a areia grossa, maresia e gosto de sal. A barra da saia negra acumulando fragmentos de conchas e pedrinhas, formando um rastro atrás de si.Seguia a solidão e só havia o vento e a água gelada. Mar revolto, vento forte, o céu não tomou suas dores e exibiu o por do sol mais bonito. Sentiu-se afrontada e apontou o dedo acusador:­ -Sem compaixão ou misericórdia, milagres...





segunda-feira, 22 de março de 2010

Enigma Archinov

O Enigmático Retorno de Archinov para o Coração Bolchevique e Seu Legado para a Liberdade de Expressão                                                                        ...





domingo, 21 de março de 2010

Fragmentos: III. O Alimento

por Marcia SzajnbokO importante é picar tudo bem picadinho. Os tomates em cubos, as abobrinhas em cubos, os pimentões, as berinjelas, tudo em perfeitos e simétricos cubos. Seria bom ver o mundo sempre assim, a vida posta em simetrias bem medidas. A faca é rápida nas mãos treinadas e os cubos se amontoam...





sábado, 20 de março de 2010

A repulsa

Léo BorgesAna, nas aulas de desenho, sofria com a humilhação dos coleguinhas. Diziam que a menina só sabia encher os papéis com contornos esquisitos, linhas perdidas que pareciam possuir significado apenas para ela. Naquele dia, entretanto, enxergaram algo em seus traços.Só que o que viram não foi um...





quinta-feira, 18 de março de 2010

Nossas falsas necessidades cotidianas

Não gosto de telefones celulares. Nunca gostei.Quando todo mundo já carregava um celular no cinto, ostentando o novo clamor da modernidade, eu relutava. Já era adepto da internet, mas do celular - Deus me livre!Mas não dá para lutar contra o óbvio.Enquanto que, alguns anos atrás, quando duas pessoas iam se encontrar, era preciso marcar data, local e hora exatos, senão o desencontro era inevitável, hoje as pessoas andam, falam e perguntam: "onde você está?...





Apenas uma mulher

Por Ju Blasina Sentada numa cadeira simples de sua casa humilde, ela é apenas uma mulher tentando fazer o seu melhor, buscando dividir o tempo entre trabalho e família, entre contas e calendários, rezando por um melhor marido, lutando por um melhor emprego, sonhando com um melhor armário. Apenas uma mulher... Como se alguma mulher no mundo fosse “apenas” alguma coisa. Ela é mãe, é filha, é amante, é amiga, é irmã. Ela é mulher. Mais tarde, deitada na cama...





quarta-feira, 17 de março de 2010

Cães

G. K. ChestertonCínicos geralmente falam dos decepcionantes efeitos da experiência, mas, graças a uma, descobri que quase todas as coisas não malignas são melhores na experiência do que na teoria. Pegue, por exemplo, a inovação que introduzi tardiamente em minha vida doméstica; ela é uma inovação com...





terça-feira, 16 de março de 2010

Poemas

Mariana ValleTEMPOTudo na vida passa.Não há desgraçaque não se abrande,não há feridaque não cicatrize,não há dorque se eternize.Quão divino remédioé o tempo,senhor dos mistérios,maravilha de invento!QUEMQuem espera não alcança, dança.Quem arrisca não se arrepende, apenas não se rende ao medo.Para quem vai à luta, não existem segredos para o sucesso.Quem corre atrás garante o ingresso.Aquele que omite, não mente, mas deixa de dizer a verdade.Quem nunca vai...





domingo, 14 de março de 2010

Dez de março

Polyana de AlmeidaTrilha centelhanavalha sentidos.Estraçalhados.Eu cativa.Março não chega.Eu conto um.Eu conto dois.Eu conto infinitos,meses destinos.Uma lança à espreita enfia,rasga a carne,peito arreganhado:vê como bate,como desejaum coração desesperado? Até março.Ao mês do impossível se faz a espera,a espera que diz:não corra tanto. Que há na correntezaalém do devir?Por que não fica aí contente com esse nada?Por que espera que na corrida se desfaça o nada?Esse...





sábado, 13 de março de 2010

O mergulho

José Guilherme Vereza Que coragem que nada. Bastou Maria Neuza ouvir dizer da maior atração do novo parque de diversões da cidade, um bungee jump de 130 metros de altura, para despertar sua inquieta curiosidade pelo desconhecido. Decidiu pelo mergulho e pronto, ninguém precisou saber disso. Foi num dia comum, logo que o parque abriu suas portas, entre dez e onze da manhã.Olhou a lonjura do topo da torre até doer o pescoço. Fez sinal da cruz, pegou...





sexta-feira, 12 de março de 2010

Simplício Aroeira descobre o que é a Morte

Foto: Rafael Lavenère Cirilo S. Lemos      O nó precisa ter sete voltas e correr sem impedimento quando eu me atirar ribanceira abaixo. A alvorada é boa hora para morrer. Quando a passarada começa a algazarra e as abelhas voam e os besouros zumbem e as flores se abrem. Alegria...





quinta-feira, 11 de março de 2010

a carta II

Maria de Fátima Meu querido António É madrugada e eu levantei-me zonza de sono. Acordei com o lençol gelado. A cama tão fria na zona onde devias deitar-te. E é hoje, que estamos no Inverno, e chove, e tem até nevado. Mas foi assim tal e qual no pino do Agosto. Tenho a mantilha preta sobre os ombros e tirito. Vou ligar o aquecimento. Agora estou melhor. Mas este frio é outro. Este frio não se acomoda com as moléculas subindo moles pelas paredes da...





a carta I

Maria de Fátima Minha querida Matilde Escrevo-te de um lugar de guerra Um lugar sem nome Escrevo-te num dia da semana entre dois domingos – será hoje dia santo?!E nem sei se é Janeiro, ou se será Dezembro, ou um outro mês que fique de permeioMas o ano em que escrevo, esse, sei: mil novecentos e sessenta...





quarta-feira, 10 de março de 2010

Seda Branca

Exausto, larguei armas e chapéu e meti a cara no rio. Caminhava há dias, após haver sido destacado para as fronteiras do Norte. O Imperador Qinzong temia os revoltosos que se proliferavam na região e conclamara guerreiros de todos os rincões do mundo.Ouvi som de flauta e me pus em alerta, espalhava-se o rumor de que bandos de ladrões e assassinos se escondiam na floresta, mas avistei um senhor, cabelos agrisalhados, descendo em direção ao rio.Saudei-o e recebi...





terça-feira, 9 de março de 2010

As canções de papel machê

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Saudade

Acordou em uma cama de hospital, sem entender direito ainda o que havia acontecido. Só se lembrava da derrapagem, da chuva, da dor quando fora jogada para fora do carro, quebrando as costelas, e mais nada. Onde estavam os outros? Ela estava a sós naquele quarto. Desespero, solidão...Estava muito longe de casa, era uma viagem de férias, estavam a caminho de uma praia distante, um acampamento, gostavam tanto disso, principalmente Carlinhos, que levava tudo na...





domingo, 7 de março de 2010

Blavinos

por Ju Blasina BLAVINO 20 — Tic-tac Tic Tac-tic Já são doze Badaladas horas Em dias seguidos por Noites em claro. Ouço eu O tilintar das moedas caídas Ao chão feito migalhas dou- -rando o tempo perdido Para não passar Sem ti até O tic-tac Dói BLAVINO 21 — Ilusão Ilusão Serei eu Miniatura Singular nos Delírios do além Ou imaginária criatura Estranho sonhar de outrem Serei eu marionete de Deuses, destino Ou sorte? Só Não serei Na morte...





A Beata

por Ju Blasina Beth aparentava a típica beata: os cabelos longos, já sem corte, geralmente guardados em trança, tocavam-lhe as coxas cobertas por saias que terminavam junto aos joelhos, sempre marcados pelas tantas horas em devoção. Usava camisas largas, na tentativa frustrada de esconder os seios fartos. Sempre abotoava até a última casa, sempre rezava até a última conta. O terço de madrepérola que carrega no pulso e o crucifixo do pescoço eram as únicas...