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sábado, 28 de maio de 2016

AS SEIS NOTAS

Não sabia o que vestir, então deixou que sua mãe a ajudasse. Reviraram as roupas do velho baú até encontrarem algo apropriado para a ocasião daquela tarde: um velho vestido de tafetá, mas de um azul bonito e lustroso. — Teu pai ficava doido quando me via socada nesse aqui. Eu faço um arranjo...





quarta-feira, 25 de maio de 2016

O crítico de Arte

 “Vou a esta!”, decidiu Carina, acentuando a decisão com um círculo a esferográfica sobre a informação da Agenda Cultural. “Uma palestra sobre aspetos da Arte pelo Sandro Delvaux só pode abrir horizontes mentais. O tipo é um crânio”, pensou, evocando a imagem vertical, ao mesmo tempo sóbria...





terça-feira, 24 de maio de 2016

TROVA DE EDWEINE LOUREIRO _ TEMA: DINHEIRO

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domingo, 22 de maio de 2016

Branco para todos os dias

Cinza o dia do outro lado da janela. E úmido. Há mais de cinco horas chovia sem trégua e Elisa não cansava de olhar as gotas despencando do céu e formando poças na grama do pátio. A mulher concentrava-se nas gotas caindo, dedicava-se obsessivamente a acompanhar o trajeto da água, pois assim, bastante ocupada, não permitia brechas para lembrar. As vezes, raios desenhavam riscos no alto da tarde e quase conseguiam desviar a atenção de Elisa, que experimentava...





sábado, 21 de maio de 2016

A bala que se encontra

Dúvidas nunca atormentam quem quatorze anos completa. Somente certezas. Certezas emolduradas pela miséria pungente transbordada pelos becos estreitos da favela onde habitava. Decidira assim abraçar o banditismo.  Não esperou a maioridade. Naquele ramo iniciava-se cedo. Infante. Esse seria seu apelido. Henrique na pia batismal, Infante Henrique alusivo ao monarca de terras além-mar. Em pouco tempo reinava na boca de fumo. Começara soldado do tráfico e...





sexta-feira, 20 de maio de 2016

Contículos

O contista contido Rui Sá resolveu escrever do único jeito que sabia ser: minimalista. Não por preguiça ou economia de palavras, mas por uma intenção mais nobre: instigar a imaginação do leitor, provocando o próprio a criar o começo e os desdobramentos das histórias que habitam esses contículos. Pode ser uma bobagem. Pode ser um exercício de leitura e pensamento. Pode ser algo divertido: pensar não custa nada. Ao trabalho, leitores. 1. O pequeno caixão branco...





quarta-feira, 18 de maio de 2016

Uma noite é sempre uma noite. Só uma noite

Devia fazer no máximo uns quarenta minutos que Chico estava ali, cochilando perto do posto central. Aquela noite parecia que ia ter pouca coisa pra fazer, e só mesmo o corriqueiro: bateria que precisava de uma carga, motor fervendo, pneu estourado, fora os malas que não põem gasolina e depois...





terça-feira, 17 de maio de 2016

Isenção

                           A verdade é que desisti da poesia porque mandei o mesmo poema para diferentes pessoas. Todas acharam que o fiz pensando nelas, mas já nem me lembro para quem era. Ficou o poema, isento. Eu não vivo assim, com isenção. ...





segunda-feira, 16 de maio de 2016

O fogo do inferno

Era assim que ela pensava nele. Com o sexo pulsando dentro da lingerie recém-comprada e os bicos dos seios em riste, dois olhos varando o tecido leve do vestido. As entranhas se repuxando e se esticando num clímax de veias e órgãos; o suor escorrendo pelo corpo, formando alagamentos onde as curvas...





domingo, 15 de maio de 2016

pelo sinal

O pai de Margarida a tentar alcançar o barco e o barco a afastar-se. O barco virado e o mastro desfeito na areia, era já a mãe de Margarida correndo pés de medo pela praia. Os pés da mãe de Margarida mais corridos do que quando iam buscar a água que se despenhava da falésia, ou quando brincavam...





terça-feira, 10 de maio de 2016

Tupsărru

Por Henry Alfred Bugalho Benedictus percorria os corredores da gigantesca biblioteca sabendo que o dia chegaria. Os boatos deviam ser verdadeiros, pois há quase um século eram repetidos de bibliotecário a bibliotecário. Numas das prateleiras, havia um livro que quem lesse jamais morreria. Não...