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terça-feira, 10 de maio de 2016

Tupsărru


Por Henry Alfred Bugalho

Benedictus percorria os corredores da gigantesca biblioteca sabendo que o dia chegaria.
Os boatos deviam ser verdadeiros, pois há quase um século eram repetidos de bibliotecário a bibliotecário. Numas das prateleiras, havia um livro que quem lesse jamais morreria.
Não se sabia se este poder provinha do próprio livro — o que por si só já seria um problema, pois talvez fosse necessário ler várias vezes à mesma obra, mas em cópias diferentes, para se ter acesso ao misterioso volume —, se provinha das palavras inscritas ou se se originava da combinação de ambos. Além disso, como saber se já havia lido tal livro, se não somente ao se descobrir imortal? Ou haveria uma marca, um sinal, uma revelação, algo que pudesse identificá-lo?
Durante vinte anos, Benedictus havia lido mais de nove mil volumes do acervo de todas as áreas dos saberes humanos: Física, Filosofia, Matemática, Química, História, Geografia, Literatura, Medicina, Direito, Gramática, Retórica...
Entretanto, tudo que havia lido contradizia os boatos. “Todo homem é mortal” era a mensagem que perpassava a totalidade do que havia sido criado pelas mãos humanas; cada homem, gênio, boçal, rico, pobre, cristão, gentio, belo ou feio feneceria.
Foi quando Benedictus encontrou um antigo manuscrito sumério, enrolado numa capa de couro. A primeira sentença revelou que o projeto de imortalidade não era tão simples quanto parecia. Escrito em cuneiforme caldeu, dizia o seguinte:

“Apenas a leitura não basta; é preciso compreensão”.

Convencido de que aquele escrito era o que procurava, o bibliotecário se debruçou sobre seu estudo. Entretanto, os caracteres bailavam diante de seus olhos e, a cada vez que ele relia o texto, o sentido era diferente.
Seus colegas se espantaram com sua determinação e, por mais de um quinquênio, admiraram seu esforço em compreender aquele frágil pergaminho.

Numa manhã, ao descerrarem as portas da biblioteca, encontraram o corpo sem vida de Benedictus debruçado sobre a mesa. Ao seu lado, havia uma anotação sua:
“Que tolo fui! Passei todo esse tempo buscando o que já me pertencia”.


Fonte da imagem: https://lebedesiscuturi.files.wordpress.com/2014/10/old-shattered-library.jpg

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