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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A pequena arte da felicidade

Quando nasci, um anjo baldio desses que fingem brincar de Deus disse: Vai, Tarlei, ser feliz na vida!  E eu fui! Rubem Alves (1933–2014) deu ao último de seus livros o título A grande arte de ser feliz. Não é por discordar do título, mas gosto de pensar que a felicidade é a arte do...





QUANDO MADALENA CHAMA

Respiro. De olhos fechados, respiro. Com o fim da tarde, batem-me à porta as obrigações da noite. Antes de acender os castiçais de porcelana, sento-me diante do espelho e procuro enxergar minha face refletida na superfície enegrecida pela rotação do tempo. Porém, nada vejo. Apenas uma lembrança...





quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Colcha de Retalhos #3

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI: INCÓGNITA Era viciada em reuniões de anônimos Na esperança de ser notada, ia a todas. Dos narcóticos aos workaholics, passando por alcoolistas, comedores compulsivos e mulheres que...





quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Perdendo pulso

Perdendo pulso Um monólogo na UTI Órgãos em múltipla falência. Dentro em mim, está tudo calando. Ouço o atestado do médico para os meus filhos: é questão de dias. Eles me visitam sempre. Chegam ávidos por boas-novas. Logo, os olhos embaçam, desesperançados. Tocam-me carinhosos, imaginando que pode ser a vez derradeira. Olham-me profundo, querendo resgatar-me ao convívio. Assim espero. Abraçam-me como podem, preocupados com sondas e agulhas, entre outros...





terça-feira, 25 de novembro de 2014

Fajeca

Joaquim Bispo Esta história tem dois atores centrais, em dois tempos distintos, em contexto de greve, numa empresa de charcutaria, mais concretamente a Salgados, Fumados e Enchidos, SA.  No princípio da década de 80, a contestação sindical à política da empresa agudizou-se fortemente....





segunda-feira, 24 de novembro de 2014

ENTRE DOIS TANAKAS

No dia 26 de outubro de 2014, data do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, o Japão também foi às urnas para escolher prefeitos e vereadores.  E aqui cabe o primeiro diferencial em relação ao pleito em terras tupiniquins, onde as disputas eleitorais viram duelos dignos dos...





sábado, 22 de novembro de 2014

Ovos do ofício

Fim do turno de trabalho, Renato volta para casa aliviado por atravessar mais um dia de sorte na corporação. Executou os procedimentos de rotina, fez as rondas que lhe cabiam, verificou arsenal e munições, prestou os esclarecimentos devidos, orientou o grupamento, manteve a segurança. De si e...





sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Números

Esporro, esporro, esporro. Calou-se uma década aos esporros patronais. Quatro filhos para criar. Hoje, vida nova se descortinava. De propósito, atrasou-se duas horas. — Com mil demônios, seu verme irresponsável! – vociferou o chefe. — Vá para a puta que lhe pariu cem vezes! – respondeu com inusitada...





quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O CRIADO

Nua de bruços, pernas abertas sobre uma maca, a mercê da rispidez das ceras depilatórias não é circunstância propícia à leitura. Mas dou um jeito de fixar mãos, queixo e olhos hipnotizados diante de "O Criado Indiano”, um bálsamo entorpecente que me pegou na veia. Sei que sou presa fácil para literatura erótica, mas que diabo baixou nesse autor, Liam. G. McRonan, um irlandês de 22 anos, vivo, cara de ricota de óculos, expressão inocente de quem nunca se...





quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A lembrança igual a um filme cheio de luzes e narrador em off ou A muralha da memória é um fio de cabelo

O cabelo no ralo. Uma desconfiança que a matemática das despesas não resolve. A cerveja na noite anterior. A voz perdida na velocidade do pensamento. &nbs...





terça-feira, 18 de novembro de 2014

Aquele jardim

Começo hoje a escrever na SAMIZDAT e inicio com um texto que fala sobre volta. Não é um contrassenso. Ao menos assim vislumbro. Sinto este espaço como o de uma constante volta a um jardim de delícias, aquele jardim que nos abastece e alimenta a alma. Jardim de palavras e de amor. De comer e beber...





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Jantar de Silêncio - Poema de Davi Kinski

Jantar de SilêncioDilate o silêncio do meu corpo.Um momento de surdez que quebra a noite.Morda o meu lábio à desatino.Embale a alma leve na jornadaEnquanto eu entrego o meu pranto.Você delira risadas no meu lírio.Eterna noite para sempre fustigada.Cristal branco em cima da bancadaSantidade minha esquecidaDe eterna vida, eterna entrega...Já na sua perna eu prego, mordo, arranho.Faço ferida em tua vida, em tua vida...Paz de anestesia em qualquer canto.Jantar...





domingo, 16 de novembro de 2014

Empatia

Jesuína não para de me olhar. Ela vigia os meus passos, marca território. O quintal é dela. Cada palmo de terra aplainada, cada minhoca que ela enxerga e come; é tudo dela. É um olhar ruim, sempre ruim. Não demora ela arrepia as penas e bate as asas vigorosamente, tentando me enxotar daqui. Uma...





sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Schadenfreude

– Óptimo, óptimo …   As palavras enrolam-se-lhe, pastosas, sob o efeito do antidepressivo que tomou empurrado por um gole de vodka com sumo de laranja. – Óptimo! – ainda repete. Maria Teresa tinha acabado de dizer-lhe, e ele tem necessidade de expfressar contentamento mesmo sabendo que mente,...





quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Desejo

Numa de suas brincadeiras de criança, o filho perguntou qual palavra achava mais bonita. Iria escrevê-la com seus cubos de madeira estampados por letras. Nem precisou pensar: − “Desejo” − respondeu. − “Desejo” é a palavra mais bonita. É no desejo que tudo começa, pensou. É no desejo sexual,...





terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pazes com a criança

um homem chora inesperadamentea alma mobiliza todos os tormentosàs vezes somos tão indefesos...a doença nos transforma em criançasvisito meu sótão internotudo é tão insalubre, imperfeitovivemos enjauladossujo minhas fraldas e volto para o meu universo desaparelhado the end ...