Começo hoje a escrever na SAMIZDAT e inicio com um texto que fala sobre volta. Não é um contrassenso. Ao menos assim vislumbro.
Sinto este espaço como o de uma constante volta a um jardim de delícias, aquele jardim que nos abastece e alimenta a alma. Jardim de palavras e de amor. De comer e beber palavras. Aquele jardim. Vamos?
Aquele jardim
Voltei àquele jardim
para ouvir. Não apenas a voz do vento, não apenas a voz das árvores, cujas
folhas balançavam. Mas para ouvir teus olhos. E meus pés indo e vindo no
balanço, a respiração procurando de novo criar um ritmo próprio.
Voltei àquele jardim porque
foi nele que tudo começou. Alice em meio ao País das Maravilhas, lá estava eu
desejando não mais correr atrás de nenhum coelho branco.
E ficar de um só
tamanho, o meu.
Voltei àquele jardim
porque tuas fadas me chamaram. Lá as feras são calmas e conversam com a gente,
desenhando nuvens no gramado que eu não fiz. Não plantei nenhuma daquelas
plantas e nem mesmo sei como se chamam. Não conheço seus donos. Apenas agradeço
me deixarem em paz.
Voltei àquele jardim
para ouvir minha mãe, que disseram andar por lá. Mas não a vi. O sol fala na
minha pele e eu ouço os antúrios, que são sempre sábios e disseram eu tivesse
paciência. Só não especificaram em quê.
Voltei àquele jardim
para te perder e não me achar. E te achar e me perder e talvez um dia me achar
por aí em outro jardim parecido. Ou no telhado de alguma casa, a cidade
desconhecida e eu abrindo um livro verde, o livro da tua história, que encontrei
e concluí.
Voltei àquele jardim
para de lá nunca mais regressar. A cidade sumiu e só ele restou, jardim
rotatório onde tu és criança e eu velha. Onde adentra meu ventre recolhido, com
a doçura que nunca pude tocar. Com o amor de quem veio de longe, e ficará.
Parabéns pela estreia! Poema (ou prosa poética?) muito bonito! Nostálgico e simples.
ResponderExcluirObrigada, Cinthia Kriemler!
ResponderExcluirComo sempre, Marina nos presenteia com um texto lindo e super sensível. Parabéns, moça. :)
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