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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

UM HOMEM PERFEITO

Levava tatuado o nome da filha ilegítima na parte posterior do braço vigoroso. Talvez o carregasse ali para explicitar a significância que dispensava às mulheres. Vestido em camisa sem mangas ― de estampa floral e botões inúteis ―, exibia evidente robustez. O volume na bermuda jeans garantia...





quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Colcha de Retalhos #12

Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI: FINAL DE TARDE Seria uma ofensa chamar o céu de azul naquele momento. Era uma mistura de rosa, laranja, amarelo e azul. Sem aviso, veio o vento gelado que varre todo final de tarde,...





quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Santo de casa é que faz milagre

Sou viúva de santeiro. Ainda hoje moro no casebre ao lado da oficina que cheira a milagre. Quando nasce uma nova imagem, rezo à Virgem, agradecida. Em Minas é assim: a religião dá sustento a muitas famílias. O avô do meu sogro já ganhava a vida com as virtudes do cinzel. O ofício tem galgado gerações, como sinal de esperança. A arte popular corre nas veias dos homens da família, batizados pela escultura. Seu trabalho é movimentar a devoção, facilitar o acesso...





terça-feira, 25 de agosto de 2015

Os pintassilgos

O verão estava no auge. Das aulas já Albertino se tinha esquecido alegremente, nos seus treze anos ávidos de largueza campestre, o pé descalço, liberto, as roupas soltas, o chapéu desabado, mas confortável. O seu céu era a ribeira: um charco aqui, outro acolá; o resto, areal sombreado pelos amieiros,...





segunda-feira, 24 de agosto de 2015

UM HAICAI PREMIADO

Publico, nesta edição, o haicai de minha autoria que obteve o SEGUNDO LUGAR no III FESTIVAL DE HAICAI DE PETRÓPOLIS. Viva a Poesia, que nos traz estas felicidades. Abraços a todos. Edweine Loureiro ...





sábado, 22 de agosto de 2015

Vivendo de sono

Sabe aquela expressão corriqueira que quem desregula a rotina da madrugada costuma usar? O exagero “morrendo de sono”? Então, essa expressão ao avesso é a que mais bem traduz Lourdes. Quem pode culpá-la por experimentar jeitos de curar conflitos? Tem gente que atravessa semana se lamentando e na sexta-feira, depois do expediente, enche a cara e solta os bichos na boate. Tem quem se encontre na terapia, quem prefira cultos religiosos, quem malhe até esquecer...





sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Dona Ondina e Seu Teto.

Desde a mudança para o novo apartamento, aqueles passos vinham lhe martelando a cabeça. Pesados, firmes, marciais, passos de quem nenhuma consideração nutria pelo vizinho de baixo. E o morador sob aqueles pés que pisavam com tamanha voracidade era ela, viúva, inválida, prisioneira de uma cadeira de rodas, clamando por sossego no apagar de sua existência, sossego quebrado pelos maus modos do morador do 802. Menos de uma semana convivendo forçosamente com aqueles...





terça-feira, 18 de agosto de 2015

Cândida

Faz meses, não, acho que já faz anos que a menina se arranha se machuca e se mutila. Até agora vem conseguindo esconder o fato. Ora foi um tombo, outrora um acidente com a faca na cozinha, e assim os engambela todos. Aos olhos de pai mãe namorado avós primos professores professoras padre ela é sempre...





segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A poesia de Anna Zêpa

21 morro a cada saudade que não mato 17 quero. afasto confesso: esqueci você em mim. 16 amor é resto de gozo. 11 viro a página na tentativa de virar você. 09 grão de areia perdido no asfalto. alguém  passa. eu só. 06 me deixo em cada pedaço por onde passo. 02 estamos chegando nalgum lugar da vida eu sem você você sem mim não há saída 01 ela na terra dele ele na terra dela há distância não   Do livro  "A convivência dos...





domingo, 16 de agosto de 2015

Puta

Cuspiu na pia. Junto com a saliva, os restos do sexo. Estremeceu. Não tinha nascido para aquela vida. Fazer dinheiro trepando é pra quem tem estômago. Lembrou de antes. De quando não contava as rugas e as unhas estavam sempre feitas e o perfume francês e as roupas eram recebidos de presente, pagos...





sábado, 15 de agosto de 2015

jogo de damas

  Gabriela calça-se.   Sapatos simples não fosse o tom vermelho tal e qual cor de sangue que se soltasse por ferida aberta.   Calça-se e ergue o corpo em cima dos dois saltos nem assim muito altos, mas finíssimos, e vai ponteando o pedacinho de soalho num ruido seco, atenta...