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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sevillanas

Carolina Benazzato Onze e quarenta e cinco, anunciava o relógio. Anoitecera, embora ninguém tenha se preocupado em acender as luzes. Talvez em nome da agradável penumbra avermelhada no quarto, traçada a partir do abajur do contista; talvez pelo destaque que o escuro possibilitava ao som do piano vindo daquele mesmo cômodo. Um dó, um ré, um mi. Um fá. Um sol, ao fim da luz vermelha, e na primeira margem da folha vazia. Sentou-se na cadeira de madeira, recostando-se....





segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

(Des)encanto 2012

Ricardo Mainieri Fecha-se o ciclo do ano em círculosmove-se a vida volátil  como certas retrospectivas que a tevêteima passar em reprise  o que se projetano horizonte do mundo? a paz ou projéteisriscando a quietude da tarde esta dúvida ardeos corpos também  alheios ao fogo cerradono consumo de mimos & modas  enquanto outros tramam uma espécie de morte dos sem rumo & dos sem sorte. RICARDO MAINIERI Poeta contumaz e prosador...





quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fim

A rapariga lá estava, desconjuntada no passeio público, nuns preparos que nunca acreditaria em vida: uma perna para um lado, a outra para o outro, a saia sem preceito deixava ver as cuecas molhadas por falta de controlo biológico no momento de tensão extrema, um espectáculo triste que nunca teria permitido se o soubesse. Á sua volta borbulhavam curiosidades, uma coisa para contar no dia seguinte, quando fossem tomar o café da manhã no emprego. Ninguém...





quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quotidiano fantástico – Atacama na minha cozinha

Joaquim BispoHá tempos, ao regressar de umas pequenas férias, deparei-me com um carreiro de formigas na cozinha e brigadas de exploração em vários outros pontos da casa. A minha mulher tratou de as atacar com vinagre e spray anti-insetos – método brutal que desaprovo, talvez inspirado nas soluções nazi-ianques – mas, apesar das inúmeras vítimas, a comunidade esfomeada não desapareceu completamente.Uns quinze dias depois, encontrei o meu pacote de flocos de...





segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Em dias assim conforta-me ler poesia

Detesto-me em dias assim, assim desse jeito triste. Fico nos cantos, ando nas sombras das pessoas. Peço desculpas pelo que não fiz. Recolho-me em um quanto, apago a luz e espero as lágrimas cairem. Em dias assim eu não choro, não consigo, as lágrimas não caem. E isso, faz com que sinta-me mais triste. Não gosto de estar em casa nesses dias, não gosto de estar entre as gentes. Parece que eu acinzento a vida alheia. Não gosto de cinza, não gosto de acinzentar...





sábado, 21 de janeiro de 2012

Purgatório

Está se vendo que você nunca se apaixonou, não é, meu caro? Dizem que paixão é uma coisa avassaladora, uma fábrica de loucuras. O Frejat ilustrou bem isso naquela música, como era mesmo a letra? Deixa pra lá. Isto não deve ser do seu interesse, não é mesmo?Apesar de estar apaixonado julgo que, o que...





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A deusa da chuva

E choveu o ano inteiro em 21 minutos. Enquanto o ônibus não chega, perambulo os olhos pela rua, cantarolando as águas de Tom Jobim, e encontro Cristina num cantinho de paus, pedras, restos de toco, um toco sozinho. Não uma Cristina gente, morta ou viva, carente ou determinada, enérgica ou entregue à sorte impiedosa do verão, da natureza e do descaso. Mas uma Cristina de papel, plastificada, enlameada, materializada por um CPF sem rosto, discreto e sujo, que...





terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PIANO SÓ(NETO)

sons puros tintos de preto e branco escancaro diante deles as janelas da alma deixo que venham, que entrem, que passem pelos meus mais escuros cantos notas noturnas, acordes perfeitos me iluminam na aurora antecipada aquecem o que em mim já quase morria de frio, solidão, incerteza ou medo vibrações leves, trinados, legatos dedos mágicos sobrevoam o teclado espuma suave que avança scherzando melancólico piano que...





segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Monólogos em desencontro

Olhou para as unhas esmaltadas mais uma vez. Em seguida, colocou na palma fina da mão um pouco do creme que mantinha sobre a cômoda, concentrando-se na tarefa de esparramá-lo. Enquanto esfregava os dedos longos, tentava se lembrar onde havia deixado o anel. — Pronta? — perguntou Ernesto.— Quase. Viu...





domingo, 15 de janeiro de 2012

horizontes

Xavier Demóstenes deixa a avenida e percorre uma rua transversal no passeio podem ver-se meia duzia de mulheres em passos de quem espera cliente: as meretrizes é assim que Beatriz Cachola, a esposa de Xavier Demóstenes, se lhes refere sempre que o marido sai mais tarde do escritório:...





sábado, 14 de janeiro de 2012

Choro

choro a lágrima de um chorinho bem executado as notas, os acordes, a melodia alegre à festa! o cavaquinho inzoneiro, choro o bandolim faceiro, choro o violão de sete cordas e sete são as notas o pandeiro modesto, choro a flauta açucarada, choro à pândega de hoje à noite! sob um pedacinho de céu estrelado um sujeito miúdo, brasileirinho, ele, que mulato assanhado, toca seu instrumento com força e delicado dá-lhe urubu malandro, seu apelido de noites cariocas sujeito...





quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sagrado

Às vezes, sinto falta do sagrado, de sua textura; cânticos religiosos, missa dominical... De coros cantantes, Panis Angelicus, meninas de branco, com laços de fita pregados em suas cabeças.. E eu, fervorosa, com os olhos infantis, pedintes, me dirigindo aos anjos, santos, Deus! Reverenciando cada...





terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O que ninguém lhe dirá numa oficina literária - parte 1 (A Criação)

(foto: http://www.flickr.com/photos/jjpacres/3293117576/)Henry Alfred Bugalho A escrita não tem nada a ver com talento e inspiração. Uma carreira literária se faz de labor e persistência. É célebre a frase de Albert Einstein que diz que "O trabalho é 1% inspiração e 99% transpiração", e não poderia...





A Mulher do Alfaiate

Henry Alfred Bugalho Inspirado na pintura La costurera de Diego Velásquez Armando se abaixou para pegar as chaves e creeeec, as calças se rasgaram de cima a baixo bem nos fundilhos. Naquela hora, ele amaldiçoou o fato de não ter cumprido a promessa de ir à academia para perder os quilos que ganhou...





domingo, 8 de janeiro de 2012

a fila

Foto: Volmar Camargo Junior Título: O dono da calçada Licensed under Creative Commons some rights reserved em boa hora vens e me tomas em tuas patasoutra hora eras cãoagora és uma gratuidade devotapor ora és dono da calçada      [e de minhas botasmas me incomoda estares a...