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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sagrado



Às vezes, sinto falta do sagrado,
de sua textura; cânticos religiosos,
missa dominical...

De coros cantantes, Panis Angelicus,
meninas de branco, com laços de fita
pregados em suas cabeças..

E eu, fervorosa,
com os olhos infantis, pedintes, me dirigindo
aos anjos, santos, Deus!

Reverenciando cada lágrima,
advinda do fervor,

hoje, me afasto do dogmatismo fervoroso
que se diluiu e fez desaparecer
antigos clamores...

É o novo se rasgando,
é o batismo se depurando,
é Nossa Senhora chorando...

Lágrimas perdidas nos buracos da fé...

Saudades dos pedaços da vida,
como carnes penduradas em matadouros.

E eu, perdida no inferno sem telhado,
como multidões rastejantes em
seus torpores vazios
despejando seus juízos em taças furadas
deixando escorrer o sangue pisado
em palavras em vão...

Crendices populares,
frestas escondidas
almas escuras
falsas profecias...

Desanuvio mentes, expulso lágrimas endurecidas,
e caio de joelhos, em pé!


Volto para a relva endurecida do concreto
e vejo carros, com seus motores barulhentos

Volto para mim, em prantos...



                                                                   
The End

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Luiza Silva Oliveira
Advogada, atriz e socióloga, Luiza Silva Oliveira inicia um novo caminho: o da escrita. Seu livro "Afetos transgressores", lançado em novembro deste ano, foi escrito após a perda de seu irmão Arnaldo Silva Oliveira, a quem é o livro é dedicado, in memorian. Dois poemas desse livro já se tornaram música, e outros estão em processo. Além disso, já fazem parte de importantes saraus paulistanos, entre eles, o Sarau dos Inquietos. Três de seus contos foram selecionados entre mais de mil e quinhentos, e por isso, fará parte da coletânea organizada pela Editora Guemanisse, com publicação prevista para janeiro de 2012.
todo dia 11


4 comentários:

Um passeio pelas raízes, a volta ao racional. Esse confronto permanente entre o instituído e o instituíste passa sempre por alguma melancolia, não? Belo texto. Belo mesmo.

a doçura desta: "Lágrimas perdidas nos buracos da fé..." a realidade crua desta outra:"Saudades dos pedaços da vida,
como carnes penduradas em matadouros."
cada frase/verso a dizer-nos

Sim Cinthia, existem condicionamentos que não conseguem ser erradicados de nosso inconsciente, isto gera sim, uma melancolia... dos sentidos...gerando grandes conflitos, é a dualidade humana, em seu amor, desamor.... obrigada pelo belíssimo comentário... beijosss


Sim Maria de Fátima, a religião, muitas vezes, em sua instituição, despedaça nossos rumores internos de alegria, gerando esses pedaços de vida... as vezes, nos sentimos como carnes penduradas em bocas de abutres, que são a nossa sociedade...
obrigada pelo lindo comentário....um grandioso beijo

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