Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

AUTORRETRATO IV

 


Eu sou aquele

que teve que recolher

o corpo da multidão sorridente

para não ser pisoteado por suas botas.

Eu sou aquele

que teve que lamber

as próprias feridas

para poder seguir em frente.

Eu sou aquele

que teve que enfrentar

o convívio cotidiano com a morte

por não ser adaptável às normas.

Eu sou aquele

que teve que se libertar

da imaginação literária

para poder sobreviver.

Eu sou aquele

que teve que aturar

um sorriso sardônico

no ambiente de trabalho.

Eu sou aquele

que se escondeu do palco

bem na hora da apresentação

por não saber representar.

Eu sou aquele

que viveu pelo caminho

com a consciência embotada

em consequência das pancadas.

Eu sou aquele

que digeriu todos os sapos

na falta de melhor cardápio.

Eu sou aquele

fantasma embolorado do armário

que mesmo revestido das melhores intenções

ainda assim foi recusado.


Share




0 comentários:

Postar um comentário