O
telefonema
O
retinir da campainha do meu telemóvel arrancou-me ao sono.
Estremunhado,
sentei-me na cama e com as pontas dos dedos tacteei a mesinha de cabeceira, até
dar com o telemóvel.
Uma
voz angustiada falou de rompante:
−
Preciso de falar contigo, é urgente, vem ter comigo à minha casa.
Nem
tive tempo para dizer fosse o que fosse, um clique anunciou que a chamada
caíra.
Ainda
a magicar no telefonema, olhei para o relógio que marcava 1 e 17. Afinal tinha
dormido muito pouco tempo, o turno terminara às 10 horas e eu tinha-me deitado
por volta da meia-noite.
Àquela
hora, com aquele timbre de voz inconfundível, só podia ser Ana Brites, a linda
ruiva que tinha conhecido há uns tempos atrás num bar do centro da cidade e que
tinha tido com ela alguns encontros de circunstância.
Apesar
da hora tardia, decidi aceitar o convite, porque não poderia desprezar um
encontro tão prometedor, não só pela pessoa em si, como pelo mistério que o
envolvia.
Saltei
da cama, tomei um banho frio, porque o calor era muito. De seguida desci as
escadas e saí para a rua.
Aguardei
no passeio à espera do táxi que tinha acabado de chamar.
Enquanto
olhava a noite que brilhava nas luzes das muitas lojas sempre abertas,
interroguei-me acerca da estranha chamada.
Algumas
respostas assaltaram-me a mente, mas nenhuma foi digna de nota, pois não
passavam de puras especulações.
−
Estamos a chegar. – alertou o motorista.
−
Encoste aqui por favor. – pedi ao taxista.
Percorri,
sem pressa, cerca de uns quinhentos metros até chegar ao número 537.
Olhei
para o 5º andar e vi luzes acesas em dois apartamentos. Um deles era o de Ana
Brites. Os outros tinham as persianas corridas e pareciam estar apagados. A luz
acesa indicava que ela sabia que eu não faltaria ao encontro e, por isso, estava
à minha espera.
Dirigi-me
para a porta de entrada e quando ia tocar à campainha a porta abriu-se e deixou
sair um encapuzado com o rosto praticamente oculto. As roupas largas escondiam
o corpo não deixando ver se era um homem ou uma mulher. Ainda pensei segui-lo
para ver quem seria o figurão ou figurona que se escondia debaixo daquelas
roupas.
Desisti
da ideia e segurei a porta para que ela se não fechasse. Entrei, subi as
escadas sem acender a luz e sem fazer barulho.
Quando
parei em frente ao apartamento 4 C a porta estava fechada.
Toquei
à campainha e esperei um bocado até tocar uma segunda vez, com alguma
insistência.
Só
se ouviu o som da campainha, nada mais, a porta continuou fechada.
Apurei
o ouvido, mas nem um se fez ouvir dentro do apartamento, apesar do silêncio
reinante.
Algo
de estranho se estava passar, porque ainda há pouco tinha sido chamado de
urgência e naquele momento estava a fechar-me a porta.
Desci e saí para a rua. Olhei para
a janela do 5º andar e a luz continuava acesa. Atravessei a avenida e fui
colocar-me no passeio em frente do prédio, onde permaneci algum tempo. Nada
mais poderia fazer, a não ser olhar para a luz que teimava em continuar acesa.
A saída precipitada após o
telefonema fez com que eu tivesse deixado o telemóvel em casa e, por isso, não
lhe podia telefonar naquele momento. Assim que chegasse a casa iria tentar
saber o que estava a acontecer.
Durante o regresso fiz o histórico
desde o telefonema original a meio da noite e até ao momento em que cheguei ao
apartamento 4 C.
Nada de anormal tinha acontecido, a
não ser aquela pessoa encapuzada que saiu do prédio àquela hora da madrugada e
que deixou a porta aberta, por onde eu entrei. O estranho não estava na saída
àquela hora, mas deixar a porta aberta, para qualquer um poder entrar, como
aconteceu comigo. Aquele comportamento de desleixo indiciava que a pessoa não
vivia lá, pois caso contrário teria fechado a porta, por questões de segurança.
Fiz
a chamada para Ana Brites assim que cheguei a casa, mas o retinir da campainha
do meu telemóvel arrancou-me ao sono.
Estremunhado,
sentei-me na cama e com as pontas dos dedos tacteei a mesinha de cabeceira até
dar com o telefone. Levantei o auscultador e uma voz angustiada falou de
rompante:
−
Preciso de falar contigo, é urgente, vem ter comigo à minha casa.
Fiquei
estupefacto! Era um “já visto” e visto há bem pouco, em sonho.
Não
hesitei um segundo que fosse, porque precisava de chegar ao prédio antes que
acontecesse alguma coisa. Teria de chegar, se fosse possível, antes da
personagem encapuzada, ou antes de ela sair do prédio. Só assim poderia impedir
a tragédia que o sonho não me desvendou, mas que eu penso que estava lá.
Em
menos do que nada já eu estava a apanhar um táxi e a pedir que me levasse à
direcção indicada o mais rápido que pudesse. Paguei a corrida, sem me preocupar
em receber o troco.
Ainda
o carro mal tinha parado já eu estava a correr para a porta que ainda se
encontrava aberta. Parei à entrada e esperei que o encapuzado entrasse no
elevador. Assim que a porta do elevador se fechou, comecei a correr escadas
acima. Quando cheguei à porta do apartamento 4 C, ainda o elevador vinha no
andar inferior.
Toquei
à campainha e esperei.
Passados
alguns segundos ouvi o rodar da chave na fechadura.
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