Não sabia, até então, que a rodovia vai além de Belo Horizonte. Não sabia que o trecho entre as duas capitais se chama Fernão Dias. Fiz mais de cem viagens pela estrada, de ônibus; avião era só às vezes, não era sempre que tinha promoção. Enriqueci a Viação Cometa, passei noites, madrugadas, dias na estrada, memorizando os barulhos da noite dentro da cabine. Sempre viajei na poltrona do corredor, para levantar e ir ao banheiro a hora que quisesse, sem importunar. Foram sessenta mil quilômetros em busca de um futuro. A volta de um outro futuro foi também feita pela estrada. Estou prestes a voltar para Minas Gerais para um último compromisso. E vou de ônibus. Tudo começou na estrada. Tudo está na estrada. Em trânsito ligado ao chão, ao solo. Me sinto em Minas Gerais quando passo de Pouso Alegre. Me sinto em São Paulo quando passo da latitude de Pouso Alegre. Mas na madrugada da cabine não consulto o celular para ver onde estou. Fico de olhos abertos no escuro das poltronas alguns momentos depois das duas paradas, e termino por acordar na praça da Cemig ou na altura de Bragança Paulista. Aí não durmo mais porque sei que já estou chegando, desço minha mochila do bagageiro e fico pronto para deixar o ônibus. Farei isso uma última vez. Aí cortarei o vínculo derradeiro com Belo Horizonte, e serei paulista novamente. Já transferi meu título de eleitor. Porém um paulista que tem gosto por subidas e ladeiras, mercados centrais, praças imponentes, jornais de literatura.
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