O
Bar - “O Etéreo”
O Céu começou a ficar
carregado de nuvens negras e a escuridão envolveu a zona onde se situava O Etéreo. O dono daquele Bar confundiu a
escuridão provocada pelo mau tempo com o cair da noite e não ligou às horas.
Quando mais tarde olhou
para o relógio, os ponteiros já passavam das nove daquela sexta-feira dia
treze. Foi nesse momento que o Alfredo se apercebeu de quão tarde já era,
sobretudo ali naquele lugar onde a partir das oito horas já ninguém gosta de
por lá andar. Aliás, os únicos seres vivos que por lá circulam depois daquela
hora são o Alfredo e um ou outro animal vadio que, por acaso, se tenha
aventurado por aquelas bandas. E mesmo esses demoram pouco tempo, dada a
abundância de flores e de cotos de velas e a escassez de algo comestível.
O Alfredo não perdeu
nem mais um segundo, arrumou o resto das sobras no frigorífico, fechou as
portadas das janelas, apagou a luz e, quando se dirigia para a porta da saída,
sentiu que alguma coisa tinha acabado de entrar no estabelecimento.
Ainda um pouco
aturdido, por causa daquela inesperada e estranha entrada, o dono do Etéreo voltou atrás e acendeu a luz.
Apesar de explorar
aquele bar há já muitos anos e, por isso, já estar também muito habituado a
lidar com a morte, que é coisa que não por ali não falta, o que viu deixou-o
paralisado de terror.
À sua frente não um,
mas uma delegação de quatro criaturas defuntas, em estados de decomposição
muito diferentes.
Embora possuído pelo
terror que dele se apoderou, conseguiu reconhecer um deles, pela fotografia que
tinha colocado numa vitrina uns dias antes. Era o mais novo dos seus vizinhos.
Dos outros já não se
conseguia lembrar, eram ossadas e algum pó, já estavam mais velhos na morte.
«Ó meu Deus, parece que
chegou a minha hora, vêm-me buscar. Nunca pensei que fosse desta maneira e tão
cedo, ainda tenho tanto para dar, lá se vão os meus projectos de ampliação do
bar.»
─ Não tenhas medo que
não te viemos buscar, a morte não vem desta maneira, ela simplesmente acontece,
mas no teu caso ainda deve faltar muito, penso eu. ─ disse o mais novo, aquele
que era ainda reconhecido pelo Alfredo.
As outras criaturas
fizeram que sim com os crânios, dando a sua aprovação ao que acabara de ser
dito.
«Se não morri de susto,
ainda devo por cá ficar muito tempo. Talvez ele tenha razão naquilo que diz,
mas o melhor é ir com cuidado, com a morte nunca se sabe, vem de repente e não
volta atrás.»
─ O motivo da nossa
visita tem a ver com negócios ─ disse o porta-voz do grupo. ─ Queremos explorar
o teu bar, a partir das dez horas da noite e, para isso, precisamos da tua
autorização.
«Devo estar a sonhar,
uns mortos a quererem explorar o bar, só pode ser em sonhos ou então estou a
ficar maluco e a começar a ter visões, e das más, só espero é já não estar
morto também.»
─ Então o que dizes à
nossa proposta? É um bom negócio para ti, agora que tens uns projectos para
ampliar o teu bar.
─ Como é que sabes, se
eu nunca falei disso a ninguém?
─ Oh, como são insondáveis os nossos desígnios!
Mas deixa isso para lá, não te preocupes, porque não precisas de fazer nada, só
tens de dar autorização e uma cópia da chave e é tudo limpo de impostos, nós
não precisamos de nenhuma factura da renda.
«Afinal não me vêm
fazer mal, pelo contrário, ainda posso lucrar com esse negócio. É chegada a
hora de aliviar o medo e conversar com eles.»
─ Com que então querem
explorar o meu bar, que ideia mais fora de sentido para uns mortos, mas falem,
que eu sou todo de escutas. ─ disse em tom de brincadeira, mais com o intuito
de desanuviar o ambiente do que de gozo.
─ Não digas isso. A
ideia faz todo o sentido e, por acaso, partiu de mim, mas foi bem acolhida pela
maior parte dos meus actuais conterrâneos. Havia, é certo, uma outra proposta
em cima da sepultura, aproveitar-se a Capela Mortuária, mas não teve
vencimento.
─ Era uma boa solução,
ficavam com um bar intramuros, escusavam de vir cá para fora.
─ E quem é que nos
comprava as coisas? Além disso, de vez em quando, há velórios que se prolongam
por toda a noite, o que nos impedia de ir ao bar. Havia ainda um outro
problema, o padre que não os merece grande confiança.
─ Como bem sabes, ou,
vá lá, desconfies, a eternidade que temos pela frente nunca mais acaba e estar
ali deitado para sempre, sem ter nada que fazer não ajuda a passar o tempo.
Mesmo as visitas, que por vezes temos, ajudam pouco a aliviar o tédio, só elas
é que falam e que se mexem, nós continuamos ali deitados. Além disso, só nos
trazem palavras e flores, coisas que nos alimentam a alma, mas não corpo. Seria
bem melhor que trouxessem algo de comestível e bebível, talvez, aquilo que não
provámos em vida, com medo de nos fazer mal. É chegada altura de nos
consolarmos. Aqui deste lado não há proibições de qualquer natureza, pois já
não há nada que nos possa fazer mal. Nós os mortos também nos queremos
divertir, achamos nós que a morte não é incompatível com a felicidade. ─ assim
falou sabiamente o mais decomposto.
O chocalhar dos ossos
da restante comitiva era um sinal concordância ao discurso e ao mesmo tempo uma
manifestação de contentamento.
─ Digam-me uma coisa
que me está a intrigar: como é que os mortos mais antigos, que se estão a
desfazer conseguem frequentar o bar, ou o bar é só para os mais novos na morte?
─ É natural essa tua
ignorância, o teu conhecimento só alcança as coisas da vida, mas da morte pouco
sabes, todos têm acesso ao bar. Aqui onde nos vês a andar e a falar tem a ver
com a antimatéria. Não te vou explicar porque não sou especialista nesta
matéria, aliás antimatéria, e tu também não entenderias, ainda és um mortal.
─ Ah! ─ exclamou o
Alfredo.
─ Vamos agora ao que te
interessa. ─ disse. ─ Damos a garantia de que não nos meteremos na tua
actividade e de nunca nos cruzaremos com a tua clientela. A hora de abertura do
nosso bar será, como já te disse, a partir das dez horas da noite, altura em que
não se vê por aqui vivalma. Talvez seja chegada a altura de começarem por aqui
a andarem mortas almas.
─ E que lucro eu com
esse negócio? ─ perguntou o dono do bar.
─
Pagamos-te a renda e as despesas com as compras para o nosso bar. Além disso,
podemos participar nos custos de água e da energia do frigorífico, pois
electricidade não gastamos, não precisamos de luz, mas isso depois será tudo
contratualizado, se chegarmos a acordo sobre a exploração do bar.
─
Poderemos igualmente custear algum gasto de energia com os aparelhos de música.
─ disse um dos outros da comitiva interrompendo o promissor contratante. ─ Sim,
queremos ouvir outras coisas, estamos fartos de música religiosa. Talvez uns
espirituais negros. Ah! Ah! Ah! Foi uma tirada com graça, não achas?
─
Já me ia esquecendo, também queremos dar ao bar um outro nome, porque isso de
se chamar Etéreo dá ares de algo
sensaborão. Estamos a pensar em encontrar uma designação que mexa connosco.
Ainda não acertámos com o nome, mas podes já contar com esse pormenor da
alteração.
─
Porra, já não estou a gostar nada disto, vocês não podem mudar o nome do bar,
ele está registado nos organismos competentes. Além disso, o que vou dizer aos
meus clientes acerca da nova designação?
─
O novo nome é só para funcionar à noite, de dia continua a ser o mesmo.
─
Ah! Assim já está melhor. E quanto ao contado, pagam com quê? Os mortos não
levam dinheiro nem outros bens para a cova, fica cá tudo para os vivos, que vos
dão, quando dão, umas missas, se forem crentes, palavras e flores.
─
Nós aqui neste nosso novo bairro temos moeda e, por sinal, muita.
─
Têm moeda? ─ perguntou estupefacto o barman.
─
Sim! Um certo dia um rico avarento, com medo de ser roubado resolver esconder
numa cova dum seu parente morto uma fortuna em moedas de ouro, diamantes e
muitas outras pedras preciosas. Nunca mais foram resgatados pelo seu
proprietário que, segundo as mortais informações, foi levado pelo mar e não
mais deu à costa.
─
E quando acabar essa dita fortuna, pagam-me com quê?
─
Quando acabar o avaro dinheiro provavelmente já nos servirás à noite, mas não
estejas preocupado, nem sonhas a quantidade de ouro e outras pedras preciosas
que há no subsolo.
─
Não gostei nada dessa premonição. ─ retorquiu agastado o Alfredo. ─ Deixemo-nos de futurismos agourentos.
─
Uma coisa eu te digo: se fecharmos o negócio deixa o pagamento por nossa conta
que não te arrependerás.
A
discussão das cláusulas contratuais, pelo visto, prolongaram-se por muito
tempo, porque já passava e muito da meia-noite quando a porta do bar se fechou
e se ouviu o ranger dos gonzos do portão do cemitério.
1 comentários:
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