Houve um tempo em que eu nadava e ali, naquele instante, tudo fluía. O passado sombrio ficava submerso e as lembranças se afogaram, eu seguia com meu corpo e minha mente leves, sem arranhões ou assaltos, com fôlego. Parecia mais fácil respirar embaixo da água do que quando eu estava na superfície.
Queria deixar minhas memórias submersas porque embora tudo o mais tenha ficado perdido em algum lugar do tempo, em mim, tudo ainda vive.
Meus pesadelos recorrentes, minha apneia no meio do dia, meu despertar assombrado sozinho num quarto escuro e vazio. Fora da água meu mundo é um completo vazio tumultuado por rostos desconhecidos que me sorri sem saber de onde eu vim.
De onde eu vim?
Não tenho raízes fincadas em lugar algum, por isso talvez me sinta tão confortável na água, no meio de um retângulo preenchido com água tratada com substâncias de aceitação. Meu mundo é acético.
Há sim amor. Um único amor. Que tenho medo de perdê-lo. Um amor que tem cheiro, que tem garras, que me envolve e me conforta. Um amor que eu protejo dos meus medos e da minha solidão.
Foi nesse amor que aprendi a nadar.
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