Desde que as férias de verão tinham
começado, Sara fazia questão de patrulhar periodicamente a casa de campo que
tinham alugado para umas semanas de bem merecido repouso. E isso apesar de
todos lhe repetirem à saciedade que não havia na zona qualquer perigo para a
saúde, segurança ou bem-estar da família.
No entanto, teoria é uma coisa e realidade
outra bem diferente e o facto é que já não era a primeira vez que se vira
forçada a agir. Mas para evitar comentários e críticas, que iam do jocoso ao
exasperado, tentava fazê-lo apenas quando estava mais ou menos só em casa ou,
pelo menos, quando tinha a maior parte das divisões por sua conta.
Além disso, esta sua atividade dava-lhe
uma sensação de poderio, de força, como se fosse por alguns instantes uma
pessoa diferente, mais próxima do que sonhava ser desde que vira uma imagem da
deusa Diana num dos muitos livros que enchiam a casa. Bom, a casa a sério, não
esta, claro.
As patrulhas a que se obrigava eram pois
um passo nesse sentido. Para além de uma distração, claro, descansar soa bem,
mas aborrece muito rapidamente quando há pouco ou nada para fazer.
E mais uma vez os factos deram-lhe,
infelizmente, razão. Por descuido de alguém ou astúcia de quem o tentara, a sua
fortaleza fora novamente invadida. E competia-lhe agora repor a ordem para bem
de todos, quer estes quisessem ou não.
Agarrou prontamente na arma, que tentava
manter sempre o mais à mão possível, e preparou-se para defender o seu lar. Só
esperava que não aparecesse alguém antes de conseguir realizar os seus intentos,
como tantas vezes acontecera, sendo muitas vezes interrompida no momento mais
crucial, o que permitia a fuga sem punição dos invasores.
Sorrateiramente, foi-se aproximando do
alvo, pé ante pé, tendo o cuidado de manter a arma bem oculta atrás das costas.
Apesar do avanço a ritmo de caracol, parava frequentemente, deixando-se ficar
imóvel uns bons instantes com um ar casual, para que o inimigo se habituasse à
sua presença.
Estava só de passagem, dizia a sua
atitude, muito que fazer, muito em que pensar, não havia mais ninguém ali, sim,
nada para ver.
Pela mesma razão, optara por uma
aproximação indireta. O plano era desviar-se no último instante e atacar então
com toda a rapidez e força de que era capaz. Se tudo corresse bem, poderia
averbar mais uma morte, a sétima, cumprindo assim a sua resolução de Ano Novo
para as férias desse ano.
Ao fim do que lhe pareceu uma eternidade e
depois de ter sido forçada a mudar ligeiramente a trajetória para a adaptar aos
movimentos do invasor, estava finalmente quase lá, bastava só mais um
passinho...
E com um feroz grito interior de ataque,
sim, não queria alarmar quem pudesse estar por perto, desferiu finalmente o seu
golpe, acertando em cheio na atrevida mosca pousada na mesa da cozinha.
Missão cumprida, tinha as sete moscas
averbadas, tal como o herói do seu conto favorito, O Alfaiate Valente. Bom, não
tinham sido de uma só vez como na história, mas mesmo assim, nada mau para quem
tinha apenas 8 anos.
Satisfeita, pendurou o mata-moscas no
sítio do costume, sentindo ainda cursar nas veias a adrenalina da caçada. Mas tivera
sempre um espírito épico...
Luísa Lopes
Imagem: Mohamed Hassan (pixabay)
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