Num espreguiçar sem fim, entreabriu os olhos
e percebeu que ainda era noite. No morno da cama e perdido no aconchego acetinado
dos lençóis, avistou apenas uma réstia prateada que entrava pela janela aberta,
dando aquela sensação prazerosa do despertar antes da hora marcada. Poderia
desfrutar do prazer de virar para o outro lado e dormir mais um bocadinho.
E, naquela pasmaceira, tentou esboçar
as etapas do dia. Domingo, compromisso com a visita, com o espetáculo. Desde o
dia anterior, a maleta, com a fantasia nova e a peruca, estava acondicionada no
porta-malas. Os sacos com os brinquedos, também. Restava apenas ajeitar, na
mochila, a maquiagem e os apetrechos de banho.
Nem bem clareou o dia, o carro deixou a
garagem. O percurso seria mais longo; o destino, daquele dia, era na Baixada.
Ligou o rádio e não conseguiu conter o riso. Isso era recorrente: ria sempre,
quando se lembrava das caras espantadas dos vendedores. Durante anos, em todas
as concessionárias que visitou para comprar um carro, defrontou-se com o espanto,
ao solicitar que todo o sistema de som do veículo fosse desativado, deixando
apenas o rádio em funcionamento. Os vendedores o olhavam como se fosse um
alucinado, ou como um rico cheio de esquisitices, caprichos de endinheirado.
Nunca tentou explicar, seria complicado. Eles não conheciam a Berenice.
De início, Berenice vendia bolo numa
barraquinha improvisada no entorno do Ibirapuera, parada obrigatória nos
passeios de domingo. Certo dia, ela colocou um aviso na parte de cima do
avental, declarando que estava à procura de emprego em casa de família.
Estando de mudança para o sobrado em
condomínio próximo, ele precisaria de ajudante. Entregou a ela um cartão para
que, no dia seguinte, o procurasse. Falariam sobre o trabalho.
Berenice chegou bem cedo, olhava tudo com muita
surpresa. Uma papelaria enorme, vários vendedores e clientes se amontoavam
pelos corredores, dirigiu-se a um dos caixas e mostrou o cartão, explicando que
deveria procurar aquela pessoa. Imediatamente foi levada ao escritório.
Genuinamente despachada, logo após os
cumprimentos, danou a falar:
− Com todo o respeito que tenho pelo senhor,
quero deixar claro que lhe chamarei de patrão. É o que é. Patrão é patrão e
pronto. Não adianta querer mudar as coisas. O senhor não é o dono da casa em
que vou trabalhar? Imagine só se, a cada vez que for preciso falar com o
senhor, eu tiver de dizer: Senhor Bonifácio! Fica complicado.
− Combinado, Berenice, assim será.
− Outra coisa, é assim mesmo que quero ser
chamada: BE-RE-NI-CE. Vou explicar. O povo da minha terra tem mania de cortar
os nomes. Na hora de registrar a criança, escolhe aqueles nomes mais compridos,
coloca um monte de letra que não conhece, junta um pedaço de nome estrangeiro, deixa
tudo tão complicado que nem mesmo o homem do cartório é capaz de anotar no
livro. Leva tempo pra entender. Depois, vem o apelido com o nome cortado. Não é
por preguiça, não! O povo encurta o nome pra sobrar mais tempo pra falar de outras
coisas, cearense adora uma conversa. Repara, presta atenção: lá em casa,
Bartolomeu virou Bartolo, Marinete é Nete, Salustiana é Salú, Silvandira é Dira,
Sandrilene é Dri. Nem vou falar no que deu o meu nome. Gosto dele inteirinho,
ele tem melodia: Be-re-ni-ce. O senhor não acha?
Falou isso num fôlego só. Bonifácio,
atordoado, apenas assentiu com a cabeça.
− E quando é que eu posso conversar com a sua
esposa? Preciso saber como é o serviço, o que ela quer que eu faça, essas
coisas que só mulher entende...
− Não tenho esposa.
− Não? Ela morreu? Tem filho?
− Não, Berenice. Não tenho esposa, nem tenho
filho.
− Ah!
− Questão de opção. Não nasci pra casar e nem
pra ter filhos. E você, é casada?
− Deus me livre! Não vou casar, nunquinha! E não
quero filho. Já chega a confusão lá de casa; um monte de gente separada,
carregada de moleque pra criar. Filho é encrenca pra vida toda. Mas não precisa
me estranhar! Sou chegada numa saliência, não fico sem os amassos, mas só ali,
naquela horinha. Depois, é cada um pro seu canto. Nada de cadeira cativa, o
senhor me entende?
Naquele momento, Bonifácio sentiu que a
vida passaria a ser tumultuada. A convivência com Berenice mudaria a rotina. Monotonia
nunca mais.
No primeiro dia de trabalho, ele ficou
em casa. Seria prudente que ajudasse Berenice na ambientação, afinal, ela precisaria
de um norte. E, durante todo o dia, notou que ela carregava, de lá pra cá, um
pequeno rádio portátil, ligado em som quase inaudível.
Antes que terminasse o dia de trabalho,
perguntou a ela sobre isso.
− Berenice, você gosta muito de música,
não é?
− Gosto. Ah! O patrão tá falando do
rádio?
− Sim. Percebi que você não se separa
dele.
− Senta aqui, patrão, vou explicar pro
senhor. Eu sempre fui muito avoada, meu pensamento é desmandado. Sabe aquela
pessoa que pensa o dia inteiro? Sou eu. E pensar muito faz a gente esquecer a
obrigação, a hora, o compromisso. O rádio é, pra mim, a linha da pipa. Ele me
prende no mundo; se o juízo voa muito alto, o rádio me traz de volta. Ele é
vivo, patrão, tem música, conta o que tá acontecendo em todo lugar, fala a hora,
e até me faz rezar. Tendo um rádio, a solidão acaba, a gente sonha com o pé no
chão. É meu parceiro, só desligo o bichinho quando vou comer. Na hora da comida,
quero silêncio pra repensar e agradecer.
Naquela noite, Bonifácio custou a
dormir. A conversa de Berenice aprontou um rebuliço nos seus sentimentos.
Generoso, cuidou de providenciar uma surpresa para a ajudante. No final daquela
mesma semana, conseguiu um rádio potente e o colocou num suporte na parede da
cozinha.
Quando Berenice chegou, na
segunda-feira, o rádio estava ligado e o patrão a olhava para ganhar um
sorriso. Ela, presepeira e toda emocionada, falou:
− Patrão, que coisa mais linda, nem sei
o que dizer! Só não te dou um abraço e um beijo porque nós dois somos travados,
e, se eu fizer isso, não vai dar certo. Mas vou te dar um presente: trouxe um
pedaço de bolo pro senhor.
− Berenice, por favor, não me faça
agrado, não gosto disso.
− Não é agrado, não, patrão! O senhor
sabe: aniversário de família é um derrame, e o meu povo é destemperado. Lá,
fartura é exagero, o bolo é do tamanho da mesa! Quando acaba a festa, cada um
leva um pedaço, e ainda sobra um monte. O bolo nem cabia na geladeira, então,
como ia estragar, trouxe um pedaço pro senhor. Eu também não sou de agradar
ninguém.
E,
assim, a vida de Bonifácio nunca mais foi a mesma. Não houve segunda-feira, por
décadas, que não tivesse “sobra” de bolo de aniversário, de torta de frango, de
pamonha, de cocada, de queijadinha...
Com o avançar dos dias, Berenice,
cansada das conjunturas que se formavam no pensamento, e, querendo um esclarecimento,
perguntou:
− Patrão, e seu pai? E sua mãe? Sua família?
− Não tenho, Berenice, sou só.
E ficou nisso. Não esclareceu
totalmente, mas esse assunto jamais foi retomado.
Mas, nem por isso, ela se isentou de
arrumar uma companhia para Bonifácio.
− Patrão, o senhor poderia arrumar um
cachorro. É uma companhia tão boa, só vendo! Ou um gato! O bichinho é
carinhoso.
− Nem pensar, Berenice. Eu sou mortal e
eles também, isso traria sofrimento para qualquer dos lados. E eu poderia me esquecer
de dar comida, de dar água. De jeito nenhum!
− E um peixinho no aquário? Um peixinho só!
− Berenice!
− Tá certo, patrão! Não se fala mais nisso...
A casa era do patrão, mas ela se sentia tão
integrada naquele ambiente, compreendia que aquilo ali era parte da sua vida, e
atinava que Bonifácio precisava ser cuidado. Acreditava que a vida não era
feita de acasos; não foi só o patrão quem leu aquele seu pedido de emprego,
carregou aquela propaganda, escancarada no peito, por dias e dias. E apenas
Bonifácio se interessou. Ninguém mais.
− Berenice, que negócio é esse de plantas em
casa? Lá fora, há vasos dependurados pra todo lado! Eu não quero ter flores
para cuidar, se não colocar água elas podem morrer. Não quero ter esse
compromisso.
− Que nada, patrão! É tudo planta resistente.
Samambaia é planta forte! Vou contar pro senhor, lá em casa tem tanta planta,
mas tanta planta, que não cabe mais nenhuma. O povo vai socando muda na minha
varanda, e, pra não colocar no lixo, trago pra cá. É só por isso.
− E aquelas duas mudas plantadas no quintal?
O que é aquilo?
− Pé de pitomba! O patrão, daqui um bom
tempo, vai ter sombra, fruta e lugar pra amarrar a rede. Depois o senhor me conta!
Berenice era tão boa de lábia, que dobrava
todas as certezas do patrão. E ele imaginava que ela não notava as plantas regadas
aos finais de semana! A mulher era ardilosa, engabelava direitinho. No pergolado
do jardim de inverno, havia tanta planta que mais parecia uma floresta. E
Berenice, tinhosa feito uma gata e sem medo de tomar outro pega, emendou:
− Patrão, olhe que canto bom pra criar uma
calopsita! A bichinha canta tão bonito!
− Berenice!
− Tá certo, nada de calopsita! Não tá mais
aqui quem falou! Entendi...
Reservadamente, ele explodia em gargalhada
sempre que ela tentava prendê-lo a qualquer coisa. No íntimo, esse propósito de
Berenice o agradava, e muito! Gostava de sentir que alguém se preocupava com
ele. Desde o primeiro momento, a afeição brotou. E, a cada ano, ela se
multiplicava. Sem que ela notasse, passava tempo observando a figura de
Berenice. Sempre mais encorpada, se bem que lutava veementemente para caber em
manequins menores, vivia com roupas sempre a ranger nas costuras. Mas, depois,
cedeu, reconheceu que essa batalha seria em vão. Estava mais madura, também
mais lenta. Mas, cabelos grisalhos nunca! Dava a impressão de ser cobaia de
produtores de colorantes para os fios. Era sempre a surpresa da segunda-feira,
uma paleta de cores ambulante! Ia do dourado ao pink, do azul ao laranja, do lilás
ao amarelo, do vermelho ao roxo. Numa certa passagem, pintou metade do cabelo
de verde e a outra metade de amarelo!
Desde que começara a trabalhar, ainda
adolescente, Bonifácio gostava de observar os artistas de rua. Era a distração
no horário do almoço, lá, no centro da cidade. Havia certo fascínio.
Malabaristas, músicos, estátua viva. Admirava a coragem de exposição que eles
mostravam, a arte exigia isso.
Bem mais tarde, muitos anos depois, contratou
um palhaço para animar a loja no dia das crianças. A alegria foi tão grande,
que isso se repetiu em muitas outras datas. E tornou-se próximo do artista. Um
dia foi convidado a acompanhá-lo, em finais de semana, nas visitas a asilos,
orfanatos, hospitais. Trabalho voluntário.
Bonifácio começou visitando asilos, e declinou
dos orfanatos. Mas apaixonou-se verdadeiramente pelas visitas a hospitais, e,
em particular, pelas alas de crianças. Em
pouco tempo, assumiu a missão: vestiu-se de palhaço. Abraçou a causa com enorme
prazer, a maquiagem o liberava. Bastava pintar o rosto, enfiar a roupa, firmar
a peruca no cucuruto e pronto, transmudava-se.
E, com Berenice, aprendeu a exercitar o
desapego. Mais que isso, compreendeu o sentido mais amplo do desprendimento. Tudo
começou quando ela, preparando os presentes de Natal, pediu ao patrão para
guardá-los num quarto, lá no sobrado.
− Patrão, o senhor sabe que a minha casa é um
disparate de movimento, um entra-e-sai de gente o dia inteiro, é a verdadeira
casa da mãe Joana, então, eu não teria como esconder os presentes de Natal das
crianças. Vou comprar os brinquedos aos poucos, e se não incomodar o senhor,
gostaria de guardar no quarto desocupado.
Bonifácio não só permitiu como também, no ano
seguinte, encantado com a iniciativa de Berenice, entrou na brincadeira e
ajudou na compra. A partir daí, a lista encompridava a cada novo ano, criança
brotava feito repolho.
− Patrão, o senhor sabe que no meu
quarteirão, das quatro bandas, é tudo casa de parente. A gente tem costume de
fazer puxadinho de três pisos, então, o senhor imagina a quantidade de gente,
se em cada casa cabem três famílias! Ali, aquele que não for do mesmo sangue, é
enroscado com um que é. Vou explicar pro patrão entender: todas as casas dão
num único terreiro. No fundo dos terrenos, não tem muro, é um quintal só. Uma
misturada! Até as roupas no varal causam confusão. No dia de pagar as contas de
água e de luz, é um quebra-pau! Eles vão puxando luz de uma casa pra outra,
puxam cano de água de uma construção pra outra, e o relógio das três famílias é
um só! Na hora de rachar a conta, valha-me, Deus! Se uma pessoa, de fora,
presenciar uma dessas brigas, vai achar que aquilo só vai ser resolvido na
peixeira! Mas não é, patrão. Tudo se ajeita. Eu já falei, é tudo gente que
gosta de barulho, que adora um falatório.
− Por isso, eu achei certo o senhor nunca aceitar
se juntar a nós nas festas de fim de ano, o senhor tem outro jeito. Lá, em dia
de festa, a manguaça começa cedo. Quando vai anoitecendo, o povo já está
falando bobiça, tudo muito diferente daquilo que o senhor conhece, mas vou te
dizer uma coisa: quando o relógio dá meia-noite, a primeira pessoa que vem no
meu pensamento é o senhor. Eu fecho os olhos e peço: “que Deus te proteja,
patrão!”. E eu peço com tanto amor, que chego a arrepiar, o senhor acredita? Naquele
dia em que o senhor me entregou o seu cartão, eu senti que era o meu dia de
Cinderela, foi mágica da fada-madrinha. Com uma única diferença: a mágica não
se desfez. Desde aquele dia, patrão, eu nunca mais tive insegurança. E não falo
isso pelo dinheiro do salário que o senhor me paga! Não! Falo isso pelo valor
que o senhor me dá, pelo respeito que recebo. Mas vamos mudar de assunto. Eu já
falei o que queria falar, só peço pro senhor acreditar, patrão, só isso.
E como não iria acreditar? Com ele aconteceu
o mesmo.
Em meio a tantas lembranças, Bonifácio notou
que já estava na Baixada. A vista do mar era encantadora. Chegando ao hospital,
ocupou a ala da enfermagem para se paramentar. Naquele dia, estava animado com
a nova fantasia. Berenice era especialista em comprar novos modelos. Combinava,
como ninguém, as cores dos tecidos com as perucas, conhecia todas as lojas da
25 de Março e do Brás! Ela sempre falava que, um dia, iria acompanhar o patrão
em uma dessas visitas, queria assistir ao espetáculo. Ambos sabiam que ela
jamais iria.
Arrastando os sacos com brinquedos, como se
estivessem pesadíssimos, entrou na enfermaria. Quando soltou a voz: “como vai,
como vai, como vai, vai ,vai?”, a sala virou uma risada só.
Bonifácio, na primeira passada pelo corredor,
além das palhaçadas, fazia o papel de olheiro. Observava os semblantes dos
pequenos pacientes; os mais participativos não o preocupavam na mesma
intensidade que aqueles de feição mais acabrunhada. Crianças prostradas e
solitárias o afligiam. E, antes de terminar o espetáculo e de modo especial,
fazia tudo para provocar um sorriso. Quanto aos
brinquedos, todos de pano, separados em sacos diferentes, eram do gosto da
criança. Ao lado de cada cama, perguntava: “boneca ou bicho?”. De acordo com a
escolha, o pequeno paciente pegava o brinquedo.
Havia um menino de olhos vendados por
ataduras, que não se animou nem mesmo com as piadas de Bonifácio. Aquela
inércia incomodava, e, ao fim do trajeto pela enfermaria, o palhaço puxou uma
cadeira e colocou-se ao lado da criança. Retirou as luvas e pegou a mão livre
do menino. A outra estava ligada ao soro. Ele não se assustou e apertou a mão
de Bonifácio. Diante dessa receptividade, o palhaço começou uma conversa:
− Está com dor?
− Não, eles não me deixam sentir dor. A
enfermeira disse que acabou de colocar um remedinho e que vai dar sono! E o
médico disse que logo vou pra casa; sinto saudade dos meninos.
− Você tem muitos irmãos?
− Muitos! Mais de trinta!
− Nossa!
− Irmãos de coração, moramos na Casa da
Criança.
Bonifácio engoliu seco. Calou-se. Ficou lá, segurando
a mão do menino, sentindo uma vontade imensa de chorar e, mesmo tentando
disfarçar, chorou mansinho. Quando percebeu que o menino relaxou a mão, havia adormecido,
ajeitou o brinquedo bem perto do travesseiro, jogou um beijo no ar e foi para o
alojamento dos enfermeiros.
Enquanto retirava a fantasia, chorou. Durante
o banho, soluçou. Não queria reviver aquilo, evitava raspar as feridas. As
dores pareciam distantes, pareciam pertencer a uma outra vida, mas agora
latejavam. E as cenas brotavam, involuntariamente. Aquele mesmo horror dos dias
de visita no orfanato. Aquela sensação de carne exposta na vitrine, esperando a
escolha de uma família caridosa. A frustração após a visita, a insônia das
noites intermináveis. Lembrava-se da
tristeza de quando Guto, o melhor amigo, foi adotado. Da dor de ambos, na
despedida. De Guto, porque deixava a irmã Tininha para trás, e, dele, por ficar
ainda mais só. Tininha havia completado cinco anos, apenas cinco anos, e
Bonifácio prometeu ao amigo que cuidaria dela. E a última dor insuportável foi quando
a família adotiva de Guto, meses depois, voltou para buscar Tininha. Naquele
tempo, Bonifácio chorou a noite toda, a semana, o mês, anos e anos a fio. Nunca
visitaria orfanato, não cutucaria a ferida daqueles abandonados. Se as pessoas
soubessem a ebulição que causam na alma de cada criança que lá vive,
repensariam as visitas. Elas são feito alpistes jogados aos pássaros. Atenuam a
fome momentaneamente.
Desligou o chuveiro, refez-se. Planejara
almoçar num restaurante, lá mesmo na Baixada. Parou na orla, na Ponta da Praia.
Ficou tempo observando o movimento dos navios, o azul das águas, a alegria das
famílias de turistas, as gargalhadas, as conversas cheias de gritaria. Só
observava, não pensava.
E, de repente, sentiu uma vontade enorme de
pegar a estrada de volta, de chegar em casa, de descongelar a lasanha
carinhosamente preparada por Berenice, de aguar as plantas, e, depois, de
deitar na rede amarrada nos pés de pitomba.
Entrou no carro, ligou o rádio, riu...
Ainda bem que o dia seguinte seria segunda-feira!
E, com certeza, haveria a matrona Berenice. Haveria uma “sobra” de bolo de
aniversário...
Regina Ruth Rincon Caires
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