Quem me conhece sabe o quanto gosto de contar essa historinha.
Uma vez, perguntaram ao Tom Jobim quem seria sua maior fonte
de inspiração. Ele, sem tirar o charuto da boca: “o prazo”.
Sábio Maestro Soberano. Nada é mais energético para a
criatividade do que a disciplina e o compromisso de entregar
alguma criatura num tempo previamente estabelecido.
Ansiedade e aflição são combustíveis. Insegurança idem.
A certeza de que não se vai conseguir criar algo de novo pode
ser ilusória depois da coisa pronta, mas durante o processo
é o real de filme de terror. Quando você sente o vazio criativo,
no angustiante momento, nada contradiz a realidade do monstro
que lhe aponta a faca atrás da cortina.
Quem me conhece sabe que todo dia 20 é dia de conto inédito
aqui nesse honroso espaço. Ou mesmo uma crônica, posição
onde não jogo tão à vontade. Mas dessa vez, o monstro venceu.
Levei a facada. Não há conto novo - poderia apelar para meus
livros publicados e requentar alguma história.
Mas não. Nem para isso tenho coragem.
Acabei de ler Leo Aversa no Globo, junto com Zuenir Ventura
escrevendo pensamentos lindos sobre Darcy Ribeiro. Na minha
cabeceira, alternam-se no momento Valter Hugo Mãe, Itamar
Vieira Júnior, Antonio Torres e Cássio Zanatta, algumas páginas
de cada vez, na velocidade voraz que a delícia dos textos me impõe.
Aprendi a abrir escaninhos de leituras simultâneas na cachola
e perdoem me se não seja coisa de leitor nobre, à altura dos autores.
É meu jeito de aproveitar ao máximo o que a boa escrita alimenta.
Mas meu pedido de desculpas pode soar cretino, embora sincero.
Dessa vez, não tem conto inédito. Apenas uma confissão do meu
fracasso criativo, embutido numa sugestão de leituras verdadeiramente
edificantes. Necessárias, obrigatórias, fortificantes para a alma.
Ou melhor, um convite a ler o que ando lendo
com supremo deleite.
Sei não, acho que vocês vão sair ganhando.
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