Agora
se fiam nela?
Na
história que ela conta,
no
verso que ela jorra?
Respeitam
sua letra de sangue
assombro
açúcar?
Publicam
seus saltos filosóficos,
rimas
e piruetas?
Desde
quando diz e desdiz
o
mundo próprio e abre outros?
Desde
quando tece assim,
se
amostrando tanto?
Narra
com o cérebro
a
cor da pele
o
útero
a
mística
o
sexo
soda
cáustica
à
luz da lua?
Deixou
de ser bruxa?
Ainda
é musa? Santa? Eremita?
Faz
só quando o homem deixa?
Enquanto
as crianças dormem?
Cria
pra quê, essa criatura,
se
há milênios ecoa uma mesma ordem grave,
falando
por faustos falos?
Não
basta ler, ouvir, obedecer?
Quer
falar por si
a
verdade
a
lacuna
o estrume?
Quer
alcançar o infinito?
Cabe-lhe
ainda o instinto?
E a dor do parto?
Pois
este é o seu status
(pode
ser atualizado):
ela
se sabe mulher
e está
farta de tribunal.
Escreve
só porque quer.
Como
quando enquanto onde
tudo
o que bem quiser.
É
no fluxo
de
seus desejos
que
a vida mora
sem ponto
nem final
Maria Amélia Elói
Imagem: "Um canto do meu ateliê" (1884), de Abigail de Andrade
2 comentários:
Maria Amélia! Forte e lindo! Sua escrita sempre bem afiada. Parabéns!
Obrigada pela leitura. Queria saber quem é você, Unknown. :)
Postar um comentário