Qual não foi a surpresa da equipe
quando, finda a primeira semana, veio contra eles a liminar de um juiz que,
incitado por líderes religiosos, proibia a encenação.
A vontade do diretor foi ir aos
jornais mandar o meritíssimo juiz enfiar a liminar na bunda, pois o artigo 5º,
IX da Constituição Federal garante plena liberdade para os artistas. Foi isso
mesmo que lhe disse a atriz que interpretava Maria de Magdala, amante de Jesus,
estudante de Direito cujos rompantes verbais punham em sobressalto sua família
quando imaginava suas futuras atuações nos tribunais.
Mas o diretor era um gentleman e
imediatamente expôs o plano B, bem mais eficiente. Fora, incógnito, a uma
igreja e conseguira doações de bíblias para todo o elenco. Juntos leriam uma
história do livro sagrado e, reaproveitando todo o material da peça censurada,
encenariam de improviso uma página das Escrituras Sagradas.
Um exército de jornalistas esperava
as palavras do diretor e eis que ele lhes disse simplesmente isso:
– Reconhecemos
nosso erro e, em sinal de paz, convidamos o meritíssimo juiz e os líderes
religiosos que moveram contra nossa condenável peça essa piedosa ação para
assistirem, no sábado, à montagem que faremos de histórias bíblicas, obedecendo
estritamente o livro sagrado.
E, no dia seguinte, os jornalistas, juntamente com o
juiz e os líderes religiosos, viram as filhas de Ló embriagando o pai e
fornicando com ele, Jefté sacrificar a própria filha em holocausto ao Senhor, o
festival de estupros promovido pela tribo de Benjamin, o príncipe Amnon
violentando a própria irmã e Jesus Cristo açoitando vendilhões do templo que
apregoavam os produtos vendidos pelos missionários da TV.
Finda a representação, o diretor foi ao proscênio e
disse:
– Agora desafio
os senhores a proibirem a Bíblia Sagrada.
(18 de setembro de 2017)
1 comentários:
EXCELENTE ARTIGO! FOI MUITO INSPIRADOR CONHECER A SOLUÇÃO INTELIGENTE DO DIRETOR! ELE FOI ARTISTA NO PALCO E FORA DELE! PARABÉNS!
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