Puerpério
O
rádio de pilha tocava a sépia,
Minha
mãe mineira e crespa,
Como
a cinza do cigarro,
A
tomar uma cerveja de seiscentos,
De
duas que comprei no boteco
Quando
ainda vendiam às crianças.
As
roupas no varal desprezavam o cheiro do mato
Enquanto
o cão mijava na ciência de espera
Feita
pelo gado com massa e argila nas bocas.
Pensava
de morrer, pensava primeiro
De
não deixar a mãe baleada de espinhos
-
por isso a cerveja, a vela pro santo,
O
limão-cravo, os cacos de vidro no muro.
Minha
mãe com olhos de luneta pro quintal:
Sabia
dela e do copo americano com engano dentro.
Mas
até hoje mal compreendi, também não quero
Saber
o porquê daquele sol sempre enforcado.
Do livro Entre o beiral e o abismo, Editora Patuá
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