Marcelinho tinha dois amigos invisíveis.
Conversava com eles pela casa, reconhecia
os meninos atravessando a rua e acenava para o nada.
Brincava com eles na escola, não dormia sem antes
dar “boa noite” ao dois. Coisa de filho único.
Um se chamava Batuta. O outro se chamava Cagão.
- Meu filho, esse amigo é muito feio. Só o Batuta
pode entrar aqui em casa.
Mãe, pai, avôs, avós, padrinho, madrinha, tias solteironas,
todos zelosos pela educação de Marcelinho, estavam cada
vez mais preocupados.
- Esse menino está vendo coisas.
- Chama Dona Odete, aquela vizinha rezadeira.
- Vai ver que está chamando irmãozinho.
- Cala a boca, papai.
Mas preferiram convocar para uma reunião o Dr. Valdetaro,
o médico da família.
- Marcelinho está com um comportamento horrível, Doutor.
Diz que tem dois amiguinhos que vivem entre nós.
Um dos amiguinhos nem podemos declinar o nome.
Chegaram a uma conclusão.
Adotaram um cachorro. E antes que Marcelinho abrisse a boca,
deram o nome de Batuta ao animal.
Semana seguinte, Batuta teve uma diarreia canina.
Saltitante, sujou os sofás, as poltronas, as almofadas
das cadeiras, as colchas, as barras das cortinas,
o persa da sala de jantar. De tanto pular e abanar o rabo,
respingou o que pode nas paredes. Deixou um rastro no corredor.
Salpicou de marrom o retrato pintado a óleo da falecida bisavó
Evangelina, matriarca da família.
Marcelinho tentou consolar a mãe, que soluçava:
- Eu sabia, mamãe. Ele não era o Batuta.
quinta-feira, 20 de junho de 2019
AMIGOS INVISÍVEIS
por José Guilherme Vereza
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