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domingo, 17 de março de 2019

Dezoito horas abaixo





Para nós, a terra é nua e plana.
Não há sombras. A poesia
Mais do que a música há de ocupar
O vazio de um céu sem hinos...

Wallace Stevens – O Homem do Violão Azul





          Tenho uma história sobre aquele-eu que foi para Porto Alegre, dezoito horas abaixo, por uma pessoa. Foram alguns meses juntos para terminar sozinho. Quatro anos passados, em nova tentativa, para terminar sozinho. Percebi que eu queria, sim, a cidade. Voltar para os lugares que conheci, voltar para os lugares conhecidos. Quando não tive mais motivos para dirigir-me rumo ao sul, pensei em fotos esquecidas em um álbum esquecido. Tentei ignorar, mas algo não foi embora. A cidade revelou-se maior, do tamanho sincero de lembranças que não voltaram desapercebidas. Se eu soubesse que essa pessoa tornaria-se uma história que não traz saudade, faria tudo novamente. Pela cidade, esta pátria, Porto Alegre. Foram poucos dias que bastaram para a cidade permanecer memória. Eu quero andar por Menino Deus e pela Redenção, como quem toma chimarrão. Riscar o chão, ver o pôr-do-sol no Guaíba até marcar aquelas águas. Águas que já foram e voltaram, novas, como da primeira vez que lá estive. O rio não se lembrará de mim. Vou me apresentar, apertar as mãos e seremos velhos amigos. Antes eu era um estranho, sem chance da conversa ao pé das águas.







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Rafael F. Carvalho
Autor do livro A Estante Deslocada, é paulistano, nascido em 27 de Fevereiro de 1978. Foi publicado em antologias de novos escritores e em jornais universitários, e é formado em Letras pela Universidade de São Paulo.


todo dia 17


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