Viva (para M. que não conheci)



faz tempo que ser mulher não é obedecer 
a qualquer sina
ao destino alienado de acordar 
pra ser boneca de corda, recatada, feminina
pasto para o prazer
inconsentido, cocho para o caralho  
insaciável de José de Pedro de Antônio de qualquer mané
usada calada violada surrada sufocada pela ausência de opções 
ensinada como dogma, aplicada como droga
faz tempo que as amélias amorfas saíram do palco 
— caíram do palco
e um novo elenco de úteros (fecundado
pelo sangue menstrual da plebe)
pulou da coxia para falar às mulheres de 
coisas que as mulheres (ainda) não sabiam
direito, luta, sororidade, comunidade
cidadania, empatia
voz demais para os ouvidos loucos
para os carrascos toscos 
para a sandice psicopata dos 
paus-mandados para calar 
caçar 
executar — a 9mm
a voz-realidade que sorria um sol de forças
a mulher que não cabia, não cabe no
ódio-capacho dos covardes sem rosto
a voz teimosa, não silenciável, que 
transcende o corpo que tombou e segue guia
que mostra como é despudoradamente linda
— e para ser ouvida sempre
a mulher que faz a própria sina.
Marielle Presente!



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