Escrito
por David Massena e dirigido por Bernardo Dugin, o espetáculo “78 Musical”
encerrou mais uma temporada de apresentações neste último final de semana. O
palco do Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura, em Nova Friburgo (RJ), nunca esteve
tão frenético e nostálgico. O musical energizou o público com canções que
marcaram a década de 70 e histórias de amor e liberdade, tendo como cenários a
discoteca Overdose e o recanto hippie de Lumiar, distrito de Nova Friburgo.
Cenários que, por sua vez, extrapolam a mera ambientação, enquadrando-se como
quase-personagens. A discoteca ganha vida a cada coreografia, a cada movimentação
dos andaimes, a cada truque com as luzes; enquanto Lumiar
ganha cores e vozes que remetem à natureza, e já se apresenta até com música
própria, a linda “Lumiar”, de Beto Guedes. A música e a dança são a anima de ambos os cenários e ao mesmo
tempo o ponto de intersecção dos personagens que circulam por eles.
(Atores em cena)
Dentre
esses personagens, destaca-se Sofia (Dani Calazans), a jovem que anseia por
saber mais sobre a vida dos pais e num passe de mágica é lançada para o
passado, mais especificamente para o ano de 1978. Num clima de “De volta para o
futuro” com “Grease”, o enredo desvela uma história de amor que enfrenta o
moralismo hipócrita da Igreja Católica. Igreja que, sobretudo em cidades do
interior, mostra as garras dogmáticas com mais radicalismo.
Vale
salientar aqui o bom humor presente no roteiro de David Massena. Ao mexer no
vespeiro religioso, David não erra a mão e cutuca a onça com a vara do alívio cômico.
A sátira que morde e assopra, muito bem alinhavada no roteiro, fazendo um
paralelo certeiro com a força musical que imperou na década em questão.
(À esquerda, David Massena; ao lado, Bernardo Dugin)
Destaca-se
ainda a atuação do casal protagonista, Tom, um hippie de Lumiar, e Rita, uma
bailarina de jazz, vividos respectivamente por Miguel Toscano e Diana Cataldo; e
também de Pedro Borges, na pele de Fabinho, que encarnou um hippie com muita
propriedade e apresentou um belo trabalho cênico e vocal em seu momento solo,
com a canção “Balada do Louco”, do álbum “Mutantes e seus Cometas no País dos
Baurets”, de 1972.
A
propósito, música boa é que não faltou. Bee Gees, Elis Regina, Raul Seixas, Village People, Gloria Gaynor... Mesmo quem não viveu a década de 1970,
pôde sentir latente essa época. Surpreendentemente, o espetáculo se lança na
contemporaneidade e atesta a velha máxima de que música boa é atemporal; assim
como determinados temas que são abordados, como a gravidez na adolescência, a
polêmica em torno do aborto e o consumo das drogas. Tudo dentro de uma
atmosfera atual, com uma roupagem anos 70.
Um último salve para a direção, que se mostrou
segura, ágil; soube conduzir mais de 30 atores/cantores/bailarinos e adequar as
transições de cenas e trabalhos coreográficos com extrema praticidade, reinventando-se
com base na movimentação dos andaimes. A banda, que tocou ao vivo, também
contribuiu bastante para o êxito dessas transições, sempre no timing certeiro.
Assim
como prega o espetáculo, o que é bom de verdade não morre nunca. A boa história
acontece e se faz perene na memória e nos corações.
E assim permanecerá o “78
Musical”: imortalizado.
Autoria: David
Massena
Direção: Bernardo
Dugin
Elenco: Alice
Verly, Amélia Dugin, Aylla Freire, Bruno Petram, Carol Groetaers, Catarina
Souza, Catharina Bucsky, Cesar Castro, Christian Knupp, Christine Valença, Cil
Corrêa, Cláudio Raposo, Cyomara de Paula, Dani Calazans, Daniel Abreu, Diana
Cataldo, Gauri Shankara, Gianne Bonan, Ilana Guilland, Isla Gastin, Luísa
Rossi, Lucas Mury, Luiz Henrique, Maria Clara Andrade, Miguel Toscano, Nabila
Trindade, Pedro Borges, Verônica Basile, Verônica Bello
0 comentários:
Postar um comentário