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segunda-feira, 12 de março de 2018

78 Musical - Crítica (por Lohan Lage)


         Escrito por David Massena e dirigido por Bernardo Dugin, o espetáculo “78 Musical” encerrou mais uma temporada de apresentações neste último final de semana. O palco do Teatro Municipal Laercio Rangel Ventura, em Nova Friburgo (RJ), nunca esteve tão frenético e nostálgico. O musical energizou o público com canções que marcaram a década de 70 e histórias de amor e liberdade, tendo como cenários a discoteca Overdose e o recanto hippie de Lumiar, distrito de Nova Friburgo. Cenários que, por sua vez, extrapolam a mera ambientação, enquadrando-se como quase-personagens. A discoteca ganha vida a cada coreografia, a cada movimentação dos andaimes, a cada truque com as luzes; enquanto Lumiar ganha cores e vozes que remetem à natureza, e já se apresenta até com música própria, a linda “Lumiar”, de Beto Guedes. A música e a dança são a anima de ambos os cenários e ao mesmo tempo o ponto de intersecção dos personagens que circulam por eles.


(Atores em cena)

         Dentre esses personagens, destaca-se Sofia (Dani Calazans), a jovem que anseia por saber mais sobre a vida dos pais e num passe de mágica é lançada para o passado, mais especificamente para o ano de 1978. Num clima de “De volta para o futuro” com “Grease”, o enredo desvela uma história de amor que enfrenta o moralismo hipócrita da Igreja Católica. Igreja que, sobretudo em cidades do interior, mostra as garras dogmáticas com mais radicalismo.
         Vale salientar aqui o bom humor presente no roteiro de David Massena. Ao mexer no vespeiro religioso, David não erra a mão e cutuca a onça com a vara do alívio cômico. A sátira que morde e assopra, muito bem alinhavada no roteiro, fazendo um paralelo certeiro com a força musical que imperou na década em questão.


(À esquerda, David Massena; ao lado, Bernardo Dugin)

         Destaca-se ainda a atuação do casal protagonista, Tom, um hippie de Lumiar, e Rita, uma bailarina de jazz, vividos respectivamente por Miguel Toscano e Diana Cataldo; e também de Pedro Borges, na pele de Fabinho, que encarnou um hippie com muita propriedade e apresentou um belo trabalho cênico e vocal em seu momento solo, com a canção “Balada do Louco”, do álbum “Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets”, de 1972.
         A propósito, música boa é que não faltou. Bee Gees, Elis Regina, Raul Seixas, Village People, Gloria Gaynor... Mesmo quem não viveu a década de 1970, pôde sentir latente essa época. Surpreendentemente, o espetáculo se lança na contemporaneidade e atesta a velha máxima de que música boa é atemporal; assim como determinados temas que são abordados, como a gravidez na adolescência, a polêmica em torno do aborto e o consumo das drogas. Tudo dentro de uma atmosfera atual, com uma roupagem anos 70.
          Um último salve para a direção, que se mostrou segura, ágil; soube conduzir mais de 30 atores/cantores/bailarinos e adequar as transições de cenas e trabalhos coreográficos com extrema praticidade, reinventando-se com base na movimentação dos andaimes. A banda, que tocou ao vivo, também contribuiu bastante para o êxito dessas transições, sempre no timing certeiro.  
         Assim como prega o espetáculo, o que é bom de verdade não morre nunca. A boa história acontece e se faz perene na memória e nos corações.
E assim permanecerá o “78 Musical”: imortalizado.

Autoria: David Massena

Direção: Bernardo Dugin

Elenco: Alice Verly, Amélia Dugin, Aylla Freire, Bruno Petram, Carol Groetaers, Catarina Souza, Catharina Bucsky, Cesar Castro, Christian Knupp, Christine Valença, Cil Corrêa, Cláudio Raposo, Cyomara de Paula, Dani Calazans, Daniel Abreu, Diana Cataldo, Gauri Shankara, Gianne Bonan, Ilana Guilland, Isla Gastin, Luísa Rossi, Lucas Mury, Luiz Henrique, Maria Clara Andrade, Miguel Toscano, Nabila Trindade, Pedro Borges, Verônica Basile, Verônica Bello

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