Nem sei se estou aqui, se ainda estou lá, mas, ainda assim, conto.
Era uma praça. Um espaço amplo.
Eu tinha lá chegado vinda da cidade e
queria ir adiante.
Ontem, como hoje, era este mês de Novembro.
Era este mês de Estio quase em Dezembro.
Dava-me em cheio na nuca, um sol muito quente e eu com o pescoço a
descoberto do cabelo que costumo ter solto mas trazia atado num desgracioso
carrapito.
Eu de pele nua àquele sol de quase
Inverno a brilhar com despudor de Julho.
A acrescer, aquela praça mais e mais imensa a cada passo que ía dando.
Comecei a ficar mole, febril, com tonturas e com tremores, e uma dor
dispersa irradiou como se fosse de ferida nas tripas ou no peito ou no sangue.
Deu-me azia e, geladas, pingaram-me da testa umas bagas grossas que me escorrerem
sobre o rosto, o pescoço e o peito que eu trazia descoberto num decote
generoso, neste mês de loucos.
E nem um pensar solto, criativo, que me resolvesse a questão que parecia
simples mas que, pastosa, se movia nos meus lábios sem solução.
- Como faço eu para sair deste
largo.
E eu nem sequer mais um passo. Eu desistindo, que não havia rua para me
levar dali a outro lado, e nem porta de prédio ou janela que eu abrisse para
safar-me daquele sítio. Nada de nada, a não ser espaço. Dali ao infinito, nem
um muro, nem uma parede, um poial, uma escada, um pedregulho. Um buraco no chão, que fosse.
De um e outro lado, espaço, apenas espaço.
Qualquer que fosse a direcção em que eu olhasse, apenas espaço, e eu a
ficar mole, eu com azia, eu com tremores e umas bagas frias a pingarem-me da
testa e a escorrerem-me, geladas, sobre os seios, o ventre, os dois dedos
grandes, o direito e o esquerdo dos meus pés parados.
Eu sem ter para onde ir e tanto espaço.
- Como faço para sair deste largo?
E ninguém que me respondesse.
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