Menina
loura.
Menina
doce e meiga.
Esse
teu estar de porcelana e mel ter-se-á formado, decerto, conforme foste
descobrindo. Que tu terás descoberto que havia um negro ainda mais negro
do que aquele que já conhecias, e terás sentido necessidade de compor esse
sorriso: várias horas por dia, um dia atrás do outro dia, um minuto depois de
outro minuto.
Tu
disfarçando, e que Deus te perdoasse.
E
nem papel de embrulho nem lâmpadas de filamento embrulhadas em simpatia, um sorriso
atando como se fosse guita, nem uma braçada de fio de cobre isolado: apenas o
sorriso que terás aprendido a colocar como colocarias o naperão para disfarçar
o risco ou para que se abafassem sons de loiça, tu que terás um dia descoberto
que havia gritos ainda mais imensos do que os que ouviras pelas noites: tu,
menina, de cabeça escondida no travesseiro.
Terá
sido desse modo paulatino e terá sido pela vida inteira.
E
eu que nem te conheci senão o mel e os afagos, eu que de ti mal vislumbrei
o desencanto no fundo dos olhos, já tu te despedias e eu sem dar por isso: um
desencanto que vinha lá do âmago de ti mesma e no qual nunca tinhas sequer
querido acreditar, tu que eras temente a um Deus de infinita Bondade;
eu
que perpassei por ti como se nem fossemos carne de igual carne, sangue que
escorria, um e o mesmo, tal e qual, fosse por picar o dedo em bico de agulha
enfiada em linha ou em bico de piteira, ou fosse, a cada ciclo, o sangue de
mulher;
eu
que nunca soube dizer-te
nunca soube
desvelar-me de cuidados.
Eu
a abrir gavetas e arcas e armários, encontrei de ti apenas silêncios.
Alguns
estavam já esmigalhados, sobretudo nalgum esconso;
outros
eram enormes, intensos, brilhantes e compactos;
macios,
no entanto;
eram os
que surgiam das letras que, folha a folha, desenhaste, e
os que ficaram naquela mala velha que gostavas de trazer a tiracolo.
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