Eu sempre guardei feriado
como quem crê um milagre:
um beijo no carnaval, as luzes
de novo ano, o banho de mar nas férias, recato na sexta santa, argola de
namorado
A vida contada em recessos —
pois fatos do todo dia acabam perdendo o viço
Meu livro é de festa das mães
proclamação da alegria caça-ovos tiradentes bom velhinho corpus christi
Não fica de fora o finados:
chuvinha precisa e insistente,
família de abraço cingido, gostoso zelar de memórias
Por muito e querido tempo,
velávamos mortos distantes
cravados em outras instâncias:
parentes de décimo grau, amigos de década antiga
Doía um nada na alma
saudade polida fazendo
cosquinha
Mas ela chegou resoluta pra se
apoderar dos retratos
ceifou meus avós alguns primos
rondou toda a vizinhança
Sem nem embaraço ou socorro
senhora de si e dos meus
laçou os chegados mais rentes.
Tocou até mesmo o meu pai!
Agora no 2 de novembro
tormenta vem muito robusta
saudade que ofende o pra
sempre
O que celebrar no suspenso –
pra caber no hoje outra vez o tempo em que éramos juntos?
Maria Amélia Elói
2 comentários:
<3
Lindo demais,parabéns
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