0:00:01
– Reticências
Prometemos nada. Nós. Extintos. Sanidades
suicidas de lógicas pragmáticas. O velho blábláblá de sempre.
Memórias. Sim, suas memórias, me vinham sempre à cabeça. Entende
o que perfura o sentido? Os anos e anos de acúmulo do signo,
estantes mofadas pelas goteiras das noites. Sempre. Sempre foram
elas, e a madrugada queimando nos bancos sujos das praças. Meu nome.
É vazio. Não existo. Sou um signo extinto de sentidos. Pontos se
acumulam. Os braços sobem. Kamikazes, sem direção, de encontro ao
corpo. A vida se acumula.
0:00:02
– Infância?
Gritávamos. Ninguém nos ouvia. Subíamos em
ônibus, nossa diversão preferida, em suas traseiras galopávamos no
êxtase, assim como o cavalo no coito. As baforadas não tinham muito
sentido. As horas olhando o relento, remoendo a correria e cuspindo
seus restos. Não entendem. Ouço os passos de sandálias apressadas.
Poeira cravada no rosto. A lápide urbana está esburacada. O vento
acerta ferozmente meu rosto. Corta de tão gelado!
0:00:03
– Sobre a existência simulada…
Nem tudo é dor. Há, sim,
um estado de suspensão. Onde nada predomina, nem o pensamento
atrapalha a racionalidade. Nem a racionalidade existe. E tudo é
pueril. Mas sempre há sons e apelos nos jornais que atrapalham a
humanidade de fluir pelos poros. Ficamos sujeitos a sermos atores. A
existência. Estado cômodo de alucinação. As palavras estão cada
vez mais vazias. Somente o acaso sobrevive à onda de ordens,
buscando sentido.
0:00:04–
Passeio ao shopping
Hoje o sol seguiu-me baixo. Toda esquina que
quebrava papelões decoravam o chão. Esguio. O caminhar continua
apressado, enquanto os gritos do coração ecoam no corpo. Os
motores, acelerados, decoram o ar. Todo nosso esforço transforma-se
em ondas. Inertes. Circulando sem fim, problematizando teorias mal
decoradas. Análises de mictoriais. Danças mal trajadas lambrisam as
novas tendências da noite. Empurrei-o escada-rolante-abaixo. Dei-lhe
em seguida uma voadora na cara. Tinham que ver. Logo. Lambuzei todas
as mãos com áquea vermelha… Puta merda!
0:00:05
– Baseado.
Dixavei o camarão. Minha mente mente, se agita e
grita com a passagem do vento. Minhas mãos tremeram. Instantes.
Ficou fritando. Vinha sempre à tona. Pensamentos. A que classe
pertenço? Não sei significar mais pertencimento. Deparo. Dúvidas.
Cortei a seda. Enrolei o baseado.
0:00:06
– Ode!
As pessoas andam sem rumo, sumindo no horizonte. A
sombra descansa pesadamente sob o castigo do meio-dia. As ruas à
noite parecem rios turvo-secos pelas gradativas erosões, provocadas
por irregularidades no ciclo lógico da existência do organismo.
Terra. Meus pés não conhecem mais o gosto. Sentidos estão sendo
privados, vagarosamente. Existe um complô de ideias. Injetam-me
sutilmente imagens, obscenas, audíveis, como uma melodia suave,
hipnótica. Esta é sua cultura, você não vê? Precisa de mais
provas? A todo o momento: construa sua imagem. Você é seu Deus.
Temos a nossa. Lavagem. Lavagem de ideias. Fodam-se as imagens. Somos
ódio. Mudo se arrastando pelo canto sujo de um bueiro qualquer. A
cidade me moldou à sua sombra, tegues manchando sua assepsia. O ar
séptico; é impossível culpar os culpados.
Lancei o detona
enquanto um vigiava uma ponta e outro, a outra. O coração acelerava
e, com os pulsos explodindo a todo o momento, era difícil controlar
a tala. Precisava às vezes de aditivos. É molesto suportar horas em
frente à TV vendo palhaços com nomes engraçados e sobrenomes
nobres. Quando a luz brilhou, no fim da rua, já sabíamos o que
fazer. Abaixei lentamente a mão e segui os olhos na direção
oposta. Descartei o bico fino. Puta que pariu, era o único que
tinha. Dispensamos a tala também. O coração acelerado, junto ao
barulho do motor silencioso do controle social. Meus braços
contraíram-se no corpo. As pancadas às vezes não deixam
cicatrizes, mas hematomas.
0:00:07
– Binômio
O sentido. As malas viraram cuecas emporcalhadas
por caralhos mal lavados e carregam agora as modas cada vez mais
frequentes de jogatinas e espetáculos modernos. Você sabe do que
estou falando. Vagava no escuro. O medo fuzilara a parede onde
estava. O pensamento ia e vinha, farol alto na neblina da madrugada.
Os instantes são transformados em pontos de interrogação. As
vulvas do peito surram a pele, corpos alucinados se envolvendo em
uivos. O silêncio.
0 comentários:
Postar um comentário