talho de esperança

dia desses
haverá um cintilo
de confusões
a arder
por entre teus fluídos,
cauta se mantenha.

independe
da atmosfera peculiar
que nos ergue,
se queima o frio
de lonjuras
presentes
ou palpita
a esperança no descuido.

sabemos que existe
para cada calvário
chorado
uma fixa impressão,
não se preserve
no que passa.

teus olhos
descansarão
por todos os escombros
numa nuvem
de clarezas,
basta se atentar
contra o declive.

se modesta
renegar o súbito
colapso
por tuas vontades,
saboreie a conquista.

liberdade nenhuma
se fará no alvoroço,
grunhe quem acredita
na lassidão
do remoer.

o contentamento
protagonizará
sua estadia
nos profícuos
negrumes,
vida alguma
sobrevive
sob a certeza
do empedramento.

não se aflija
diante do apuro,
o sentir
é a viela
de instantes.

por respiráveis
tempos
estarei te cobrindo
com o enlace
de importâncias,
és em mim
incontestável
regozijo.

evocarei
sem-fins
para depurar
o covil,
tua fatalidade
é estanque
dum abraço.

nessa redoma
aparelhada
de lapsos
flutua
a significação
do agora,
venha-me
pelo abuso
do querer.

te espero
com a resiliência
de um cadáver
a se purgar.


Jan Sluijters - Nocturne (1904)

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