Se
você é leitor de Schulz - e lê em inglês, francês ou italiano - não
perca a oportunidade. E torça para que O Messias em Estocolmo, de Cynthia Ozick, seja publicado no Brasil -
com sorte, considerando que a autora, presença constante nas listas para o Nobel, o romance aparece por
aqui.
Curiosamente,
em 1987, um certo Alex Schulz se declarou primo de Bruno, e disse a
Jerzy Ficowski (biógrafo do escritor) que um homem de Lwów,
provavelmente um diplomata ou um agente da KGB, lhe teria oferecido um
pacote de cerca de dois quilos, contendo manuscritos e desenhos do
autor. Ficowski concordou em verificar a autenticidade do material;
meses depois, Alex morreu e Fixowski perdeu a oportunidade de travar
qualquer contato com o misterioso homem de Lwow. Anos depois, encontrou o
embaixador sueco em Varsóvia, que disse um pacote contendo o romance O messias estaria
escondido nos arquivos da KGB; o embaixador teria sabido disso por meio
de um russo e pediu a Ficowski que o acompanhasse na Ucrânia para
procurar pelo pacote, mas recebeu duas negativas das autoridades locais.
O embaixador acabou morrendo também e a questão ficou esquecida.
A história do Messias é fascinante, e serviu de inspiração para diversos escritores, como Cynthia Ozick e David Grossman. E, nestes tempos de internet e redes sociais, não custa lembrar que o livro foi publicado em 1987, o que deve ser levado em
consideração pelo leitor.
Lars
Andemening é um editor do caderno de cultura de um jornal de Estocolmo.
Escreve às segundas - suprema humilhação para um articulista de
cultura, já que ninguém lê o caderno às segundas (isso é coisa para
sexta, sábado ou domingo). Pior, o sujeito só fala de autores do leste
europeu, como Danilo Kis, Kundera, Kafka, Gombrowicz, Schulz... Quase ninguém o lê - sim, mesmo na Suécia esse time de autores é para poucos. E costuma
visitar uma livraria estranha, comandada por Heidi Eklund e seu
misterioso marido.
E
sobre Schulz, há algo especial. Lars se diz filho do estranho escritor
judeu polonês assassinado por um oficial nazista na Polônia ocupada, em
1942. Ele teria escrito um livro desaparecido, O messias. O
que o autoproclamado filho de Schulz não imaginava era encontrar Adela,
uma mulher que se anuncia como... filha do polonês e, consequentemente,
de alguma forma, sua irmã. Pior: essa irmã possui os originais d'O Messias.
Ozick
transita entre o universo de Schulz e uma história de duplicidade -
Lars é, de fato, filho do escritor polonês? Schulz teria, realmente,
escrito o Messias? Os originais existem? Adela é o nome de
personagens de outras histórias de Bruno. E Lars parece entrar em
parafuso, ao deduzir que Adela é, na verdade, filha dos Eklund. Mas, e o
original - é de Schulz ou não? Cabe ao leitor descobrir. Mais, aqui, seria um spoiler sem sentido...
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