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sábado, 2 de abril de 2016

SUBTRAÇÃO







Dentre as principais operações matemáticas, considero a subtração a mais perversa. Além dos aspectos negativos – é um sinal de menos o que a caracteriza –, ela contém em si a retirada, a falta, a ausência. Nem mesmo a divisão, que, para alguns, seria uma subtração potencializada, soa tão mal. Afinal, a divisão pressupõe distribuição igual e justa, muitas vezes com direito a resto. Adição e multiplicação são naturalmente vistas com uma conotação positiva, pois ambas pressupõem acréscimo, união, potencialização, fortalecimento.
Voltando à subtração, ainda que alguns possam argumentar que, dependendo daquilo que esteja sendo subtraído, haveria nela aspectos positivos, a subtração – ou movimento para baixo, para menos, para aquém – contém em si a perda. Estará o minuendo feliz e de acordo com a retirada de parte de si? Ou viverá, até o fim de seus dias, resignado e incompleto, como alguém alijado de si mesmo, numa metáfora da condição humana?
Filosoficamente, a subtração é, sem dúvida, a mais melancólica das quatro operações. Em uma ciência que tem na incógnita a sua maior expressão, e que busca, de forma incessante, na racionalidade de seus argumentos, conceituar com suposta exatidão os números naturais, como lidar com a existência de um conjunto vazio, em um mundo de interseções e uniões? Como encarar o sentido da existência quando se é menor do que zero? Ser um zero à esquerda, sentir-se fracionado, buscar a unidade, ainda que isso signifique ser elevado à potência zero, pode ser uma aventura para poucos.
Que a parábola seja apenas a expressão gráfica de uma trajetória que cabe ao ser conduzir, ainda que isso exija dele uma guinada de 180º.
Saber a hora de ser agudo e assertivo, ou a de parecer levemente obtuso, pois as verdades nem sempre cabem em um ângulo reto, talvez sejam estratégias eficazes. Pode ser ainda que o segredo esteja em conviver harmoniosamente com as quatro operações, numa corda-bamba que pode fazer a diferença entre simplesmente estar em evidência ou tornar-se um produto notável. Provar de forma cartesiana seus valores e opiniões, algo a ser conquistado, ainda que isso por vezes inclua subtrair, sem medo ou necessidade de prova real.

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Tatiana Alves
Tatiana Alves é poeta, contista e ensaísta. Participou de diversos concursos literários, tendo obtido vários prêmios. É colaboradora da Revista Samizdat, já tendo escrito para os sites Anjos de Prata, Cronópios, Germina Literatura e Escritoras Suicidas. É filiada à APPERJ, à Academia Cachoeirense de Letras e à AEILIJ. Possui nove livros publicados. É Doutora em Letras e leciona Língua Portuguesa e Literatura no CEFET / RJ.

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