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domingo, 20 de março de 2016

Os amigos que se dão ao trabalho de me ler sabem que não sou dado a crônicas,
mas histórias ficcionais, onde criaturas e situações são filhas das invencionices
com a pretensão de criar algo que pareça real ou surreal. Mas diante da conjuntura
que se esfrega ao nosso nariz, impossível não a inalar tal fumaça, correndo o risco
de ser percebido alienado e tolo como afrodescendente com transtornos mentais daquele
samba imortal. Falei certo? Politicamente correto? Sigamos. As certezas, dúvidas e
incertezas, os fatos e contra fatos, os caminhos e descaminhos do Brasil atual
são tantos e variados que fica difícil se manter num prumo equilibrado imune às
emoções e razões. Claro que tenho minhas preferências conscientes, muitos sabem, já me
manifestei em palavras próprias, compartilhando pensamentos com os quais me identifico
e tomando sol e chuvisco na cabeça. O balanço que faço da corda bamba que atravessa
esse desfiladeiro de geleia fervendo lá embaixo, são as expressões do bom humor que
começam a surgir aqui e acolá, nas esquinas, nas mesas de bar, nas redes sociais,
em contraponto às agressões e defesas insanas e mal-educadas de pontos de vista de
todos os lados. Bom sinal. É preciso seguir a vida. A paralisia da política e da economia
não pode estatuar o brasileiro, no que ele tem de mais criativo e jeitoso para enfrentar
adversidades. Melhor assim. Seja como o Brasil vai se desmeter do que se meteu,
torço sempre pelo bom humor como construção de cultura e expressão pacífica.
A saber o que andei pinçando: “Fulana está tão malvestida, deselegante como uma conversa
grampeada do Lula. ” Sobre a mesma Fulana: “Ela está desesperada por que acha que sua Bolsa
Louis Vitton Família está ameaçada. ” “A única indústria próspera no Brasil é a de panelas”.
Ainda sobre o panelaço: “A ex Primeira Dama, tão discreta, resolveu revelar onde se
deve guardar panela. ” Outra: “Felação Premiada é instrumento da Operação Leva-Jato”.
Há muitas bobagens boas voando por aí e provoco o leitor a inventar ou registrar também.
Mas uma me parece imbatível:
“Meu temor por uma guerra civil é que nossa Guernica seja pintada pelo Romero Britto”.
Medo. E assim me despeço.


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José Guilherme Vereza
Carioca, botafoguense, pai de 4 filhos. Redator, publicitário, professor, roteirista, escritor, diretor de criação. Mais de mil comercias para TV e cinema. Uma peça de teatro: “Uma carta de adeus”. Um conto premiado: “Relações Postais”. Um livro publicado “30 segundos – Contos Expressos”. Mais de 3 anos na Samizdat. Sempre à espreita da vida, consigo modesta e pretensiosamente transformar em ficção tudo que vejo. Ou acho que vejo. Ou que gostaria de ver. Ou que imagino que vejo. Ou que nem vejo. Passou pelos meus radares, conto, distorço, maldigo, faço e aconteço. Palavras são para isso. Para se fingir viver de tudo e de verdade.
todo dia 20


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