Seguem alguns breves textos da coluna Colcha de Retalhos, homônima do livro que está disponível gratuitamente AQUI:
CINZAS
Em uma metrópole qualquer, debaixo de uma chuva fina, mas tão fina que se tornava quase invisível, caminhavam lado a lado, de mãos dadas, o garotinho e a mãe. A mãe ia andando com pressa, sem dar atenção ao filho, arrastando-o pela mão.
Quando pararam em um cruzamento, esperando o sinal abrir, o garotinho girou o pescoço e reparou no mundo à sua volta: nas centenas de pessoas apressadas, nas plantas, pássaros, prédios e tudo o mais. Após uma breve análise, por sinal muito precisa, ele virou-se para a mãe e perguntou:
— Mamãe, se os passarinhos são coloridos, as plantinhas são coloridas, os prédios são coloridos e até mesmo a comida é colorida... Por que é que as pessoas são todas cinza?
E ele ficou olhando, esperando por uma resposta. Enquan¬to o rosto da mãe, por vergonha, passou de cinza para rosa.
SABIA ASSOBIAR
Cabisbaixos ambos, ele e o canário. Ele sentou-se na varan¬da, abaixo da gaiola, e começou a assobiar, lenta e tristemente.
O canário, que até então nunca havia sequer piado, res¬pondeu, com um canto rápido e alegre. Ele então sorriu, como nunca havia sorrido.
Não se sabe até hoje quem ensinou quem.
FAZENDO AS PAZES
Às vezes, tenho lá meus desentendimentos com o mun¬do. Ficamos brigados, ambos emburrados e em silêncio. On¬tem mesmo tivemos uma briga feia. O mundo pode ser bem cruel de vez em quando.
Mas ao final da tarde, uma borboleta pousou ao meu lado na rede. Chegou e por ali ficou, batendo asas como se dançasse. Aceitei as desculpas imediatamente, sem pensar duas vezes.
PÓ
Passou o dedo pela cabeceira e mostrou para a garotinha deitada na cama ao lado:
— Olha essa sujeira, minha filha, isso aqui está uma vergonha!
— Mas não fui eu que sujei.
— Foi você sim. Está aqui no seu quarto.
— Mas...
— Nada de “mas”. Ainda hoje você pega um paninho e limpa. Quando eu voltar, quero ver isso aqui brilhando.
A garotinha, ainda deitada na cama, refletiu sobre o pó em cima da cabeceira e sua relação de culpa em relação ao pó. E, quando a mãe voltou, a cabeceira ainda estava toda empoei¬rada. Ela então cobrou a filha:
— Por que é que a cabeceira continua toda cheia de pó?
Com um ar de saber só de experiências feito, a garotinha respondeu, até com certo desprezo:
— Não adianta limpar. Vai sujar de novo. É pó de gente.
CINZAS
Em uma metrópole qualquer, debaixo de uma chuva fina, mas tão fina que se tornava quase invisível, caminhavam lado a lado, de mãos dadas, o garotinho e a mãe. A mãe ia andando com pressa, sem dar atenção ao filho, arrastando-o pela mão.
Quando pararam em um cruzamento, esperando o sinal abrir, o garotinho girou o pescoço e reparou no mundo à sua volta: nas centenas de pessoas apressadas, nas plantas, pássaros, prédios e tudo o mais. Após uma breve análise, por sinal muito precisa, ele virou-se para a mãe e perguntou:
— Mamãe, se os passarinhos são coloridos, as plantinhas são coloridas, os prédios são coloridos e até mesmo a comida é colorida... Por que é que as pessoas são todas cinza?
E ele ficou olhando, esperando por uma resposta. Enquan¬to o rosto da mãe, por vergonha, passou de cinza para rosa.
SABIA ASSOBIAR
Cabisbaixos ambos, ele e o canário. Ele sentou-se na varan¬da, abaixo da gaiola, e começou a assobiar, lenta e tristemente.
O canário, que até então nunca havia sequer piado, res¬pondeu, com um canto rápido e alegre. Ele então sorriu, como nunca havia sorrido.
Não se sabe até hoje quem ensinou quem.
FAZENDO AS PAZES
Às vezes, tenho lá meus desentendimentos com o mun¬do. Ficamos brigados, ambos emburrados e em silêncio. On¬tem mesmo tivemos uma briga feia. O mundo pode ser bem cruel de vez em quando.
Mas ao final da tarde, uma borboleta pousou ao meu lado na rede. Chegou e por ali ficou, batendo asas como se dançasse. Aceitei as desculpas imediatamente, sem pensar duas vezes.
PÓ
Passou o dedo pela cabeceira e mostrou para a garotinha deitada na cama ao lado:
— Olha essa sujeira, minha filha, isso aqui está uma vergonha!
— Mas não fui eu que sujei.
— Foi você sim. Está aqui no seu quarto.
— Mas...
— Nada de “mas”. Ainda hoje você pega um paninho e limpa. Quando eu voltar, quero ver isso aqui brilhando.
A garotinha, ainda deitada na cama, refletiu sobre o pó em cima da cabeceira e sua relação de culpa em relação ao pó. E, quando a mãe voltou, a cabeceira ainda estava toda empoei¬rada. Ela então cobrou a filha:
— Por que é que a cabeceira continua toda cheia de pó?
Com um ar de saber só de experiências feito, a garotinha respondeu, até com certo desprezo:
— Não adianta limpar. Vai sujar de novo. É pó de gente.
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